Nesse último fim de semana fiz um discurso inspirado e emocionado da tribuna da nossa Câmara Municipal, em homenagem ao ex-senador Evandro Carreira que, debaixo de aplausos de parentes e admiradores, recebeu a medalha de ouro Cidade de Manaus, a mais elevada comenda concedida por relevantes serviços prestados à sociedade.
Após os discursos dos vereadores e de amigos do senador, para mim senador sempre, o mestre Carreira pronunciou discurso vibrante, brilhante, prenhe de erudição, demonstrando conhecimento profundo da realidade amazônica. No decorrer de quase uma hora, a atenção do público estava tão centrada no ilustre orador, que dava até para se ouvir o zumbido de um inseto. Ali, nos dando uma aula magistral, encontrava-se o político, o cientista, o professor, enfim o emérito amazonólogo Evandro Carreira.
Em meu discurso recordei de muitos episódios em que a minha vida se cruzou com a do amigo e irmão mais velho Evandro Carreira. Lembrei-me que foi ele que, na minha ausência, pois que me encontrava no Sul do País, foi à minha casa em busca do meu título de eleitor e o encaminhou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Outro fato marcante envolveu a defesa do então senador Evandro Carreira quando enfrentou o líder do governo militar no Senado, Virgílio Távora que, sem nenhum pudor, pedia a cassação do meu mandato em razão de denúncia grave que eu havia feito envolvendo a alta cúpula do DNER no País, acusada de transportar contrabando de Manaus para o Sul do País em caminhões do órgão pela BR-319. Não fosse a reação valente, guerreira, do meu amigo Evandro Carreira, é quase certo que o meu mandato teria sido cassado pela ditadura militar.
Eleitos pela oposição à ditadura militar, ele Senador e eu Deputado Federal, ainda neófito em política, recebi o seu apoio, bebi na sua experiência e aprendi muito do que sei hoje. Cheguei à Câmara Federal leigo em política, pouco mais que um garoto. A minha experiência limitava-se, tão somente a política estudantil, área onde havia militado como presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito e do DCE da Universidade Federal do Amazonas, hoje UFAM.
Posso dizer que a minha iniciação na política partidária devo a dois políticos: o Senador Evandro Carreira que me incentivou a ingressar na política e ao Fábio Lucena, outro gigante da política amazonense que, impedido pelos militares de sair candidato, colocou a mão no meu ombro e, pela televisão, disse ao povo: “este jovem é o meu candidato. Eu confio nele. Quem votar nele é como se estivesse voltando em mim”. Resultado: o povo do Amazonas me fez o deputado federal mais votado das eleições de l974.
No entanto, o senador Evandro Carreira, a quem já admirava como vereador de Manaus, passei a admirá-lo ainda mais como Senador da República. Digo sempre que o meu amigo Evandro Carreia levou o governo da República a repensar a Amazônia, naquela época destinada pelos militares para a criação bovina. Em discursos polêmicos, Carreira condenou a colonização da Amazônia pela pata do boi e ensinou que o destino econômico desta grande região deveria ocorrer sem ferir a floresta e respeitando-se a sua vocação natural. Evandro Careiro é o profeta da Amazônia. Foi ele quem primeiro falou na criação de peixe, o que ele chamava de fazendas aquáticas e no aproveitamento racional das várzeas.
Passado o tempo, viu-se que o então Senador Evandro Carreira tinha razão. Os seus ensinamentos proferidos nos seus discursos quando senador da República, continuam atuais, vivos. O que falta, infelizmente, é o País e o Amazonas serem governados por pessoas capazes de tornar realidade o sonho desse grande amazônida. Vida longa a esse jovem, hoje com 84 anos. Que ele continue nos ensinando como preservar essa grande floresta construída pelas mãos de Deus.
Por: vereador Mário Frota
Líder do PDT na CMM
Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM
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