Texto: Vereador Mário Frota*
“Corromperam a eleição, mas não subjugaram
a alma valente do povo desta cidade que, em represália, dois anos depois, elegeu
Arthur prefeito de Manaus”.
Em 1985,
o Arthur Virgílio Neto e eu, na época deputados federais pelo partido de
oposição à ditadura militar, lideramos um movimento que passou para a história com
o slogan Muda Amazonas. O grupo, constituído à época por companheiros e
companheiras ainda bastante jovens, tinha por objetivo impedir o avanço e a perpetuação
da oligarquia que Gilberto Mestrinho havia fundado em 1982, quando se elegeu
governador do Estado.
O
Boto, expressão que usávamos quando queríamos deixá-lo mal humorado, anunciou
que iria governar o Amazonas por 20 anos. Aos nossos ouvidos isso soava como
ameaça, haja vista que estávamos saindo de uma ditadura instalada no país há
duas décadas. A minha posição – e isso eu colocava de público – era que o
Brasil, depois de 20 anos, estava se libertando de um regime militar, mas, por
sua vez, o Amazonas mergulhava numa ditadura populista. O grupo rebelde ao Boto
e à sua idéia de se perpetuar no poder, lançou-se à luta e, por duas vezes, o
enfrentou nas urnas. A primeira, em 1986, com o Arthur para o governo e eu para
o senado. A segunda, em 1988, quando o Arthur candidatou-se a prefeito e eu
para uma vaga de vereador.
O
resultado é do conhecimento de todos. Em 1986, à luz do dia, roubaram a minha
eleição para o Senado. O Boto e os seus asseclas furtaram a minha eleição na
calada da noite para favorecer o paulista Carlos Alberto De Carli. Corromperam
a eleição, mas não subjugaram a alma valente do povo desta cidade que, em
represália, dois anos depois, elegeu Arthur prefeito de Manaus, derrotando o
próprio Gilberto Mestrinho, na época o principal líder da oligarquia por ele
criada. Nessa mesma eleição o povo desta terra me fez o vereador mais votado de
Manaus. A minha votação extraordinária puxou companheiros ilustres como João
Pedro, Jefferson Péres, Serafim Correia e Vanessa Grazziotin.
Hoje,
apesar da urna eletrônica, os poderosos continuam roubando eleições, a exemplo da
garfada que deram no mandato de senador do Arthur Virgílio Neto para
beneficiar, desta vez, a Vanessa Grazziotin. Em
verdade só mudaram os métodos. Antes, a eleição como ocorreu no meu caso, eram
decididas nas mesas de apuração, onde se sabe que juízes e mesários eram
corrompidos. Agora a tática é outra, ou seja, ocorre pela compra de votos,
principalmente nas regiões mais pobres do Estado - que variam de R$ 50,00 a R$
100,00 - onde os populistas, herdeiros de Mestrinho, compram, com o dinheiro do
povo, o voto dos analfabetos e miseráveis, por eles estimulados para servi-los
em época de eleição.
*Advogado;
* Líder do PSDB na CMM;
* Presidente da
Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.