As denúncias vêm sendo feitas pelo deputado estadual Orlando
Cidade
Texto:
Vereador Mário Frota*
Numa
comunidade do Lago de Tefé, integrantes do Batalhão Florestal invadiram uma
casa e levaram uma panela contendo pedaços de uma paca que a esposa do
ribeirinho estava preparando para o almoço dos filhos.
O meu amigo deputado estadual Orlando Cidade,
do PTN, como homem do interior, sabe o que está dizendo, quando afirma que o
interior do Estado está abandonado e não produz nada, a não ser o bacalhau do
peixe pirarucu, idealizado pelo Eron Bezerra, titular da Secretaria de Estado
da Produção Rural do Amazonas - SEPROR, vendido muito caro, inacessível à mesa
das camadas mais pobres da sociedade.
Recentemente fiz pronunciamento, da tribuna
da Câmara de Vereadores, e, basicamente, disse a mesma coisa, ou seja, que os
últimos governantes deste Estado só enxergam Manaus, possivelmente porque,
aqui, está concentrada quase 60% da população eleitoral do Estado. Ao final das
contas o interior é relegado ao abandono e o resultado é que estamos vendo aí:
o preço da nossa farinha de mandioca de todos os dias, bem mais caro do que o
de alimentos que importamos do Sul do País, a exemplo do tomate, do açúcar, do
feijão, do arroz, entre outros. O nome disso é absurdo.
Enquanto as várzeas do rio Nilo, no Egito,
alimentam 250 milhões de árabes, as nossas, centenas de vezes maiores, não
produzem o suficiente para matar a fome dos milhares de homens e mulheres que
vivem sobre elas. Uma vergonha. Apesar do gigantesco potencial que elas nos
oferecem, até a presente data nenhuma política pública, seja do Estado ou do Governo
Federal, ainda não foi criada para promover o desenvolvimento dessas extensas
regiões de terras entre as mais férteis do mundo.
O governo deveria pagar cada cidadão
disposto a se fixar no interior, e não persegui-lo com multas pesadas e com
ameaças de cadeia, a exemplo do que faz o Instituto de Proteção Ambiental do Estado
do Amazonas - IPAAM, conforme denúncias que ora vêm sendo feitas pelo deputado
Orlando Cidade. O Batalhão Florestal
virou outra dor de cabeça para o homem do hinterland. Viajando pelo Solimões, soube que, numa
comunidade situada no Lago de Tefé, integrantes desse brioso Batalhão teriam
invadido uma casa e levado uma panela contendo pedaços de uma paca que a esposa
do ribeirinho estava preparando para o almoço dos filhos.
Quando deputado estadual, inspirado no
Batalhão Florestal do Estado de São Paulo, apresentei projeto de lei com
propósito de, aqui, ser criado um batalhão nos mesmos moldes. Eleito
vice-prefeito, na chapa de Serafim Correia, tive que deixar a Assembleia, mas,
logo depois, soube que o então governador Eduardo Braga havia apostado nas
minhas intenções e criado o atual Batalhão.
A minha ideia era que esse Batalhão deveria proteger as nossas imensas
florestas da ganância dos grandes grupos econômicos que derrubam as nossas matas,
a exemplo do que já foi feito nos vizinhos estados de Rondônia, Pará e Acre,
transformando-as em pastagens para a criação de gado.
Estava redondamente enganado. O resultado é
o que aí está: perseguição aos pequenos, aos humildes, e nenhuma preocupação
com os poderosos que - em especial em municípios, a exemplo do Apuí, Manicoré e
Lábrea – já desmataram significativas faixas das suas florestas para o uso de
agricultura extensiva e criação bovina. Foi esse, infelizmente, o destino do
nosso Batalhão.
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.