A grande farsa amazônica: Amazonino, Pauderney, Braguinha e a vítima, Mário Frota, n'O Brasil na Fita
Por: Roberto Pacheco –
MTb 426
O autor
dedica cinco páginas do seu livro (de 182 a 186), para esclarecer a fraude
montado pelo deputado federal Pauderney Avelino e o então secretário de obras,
João Coelho Braga, que, segundo Marinho, estavam à serviço de Amazonino Mendes,
desafeto de Mário Frota.
O livro ‘O Brasil na fita’,
lançado em maio pela Editora Record, de autoria do professor da Unicamp,
Ricardo Molina, um dos peritos mais respeitado do país, conta, em detalhes,
cerca de 70 casos em que ele trabalhou durante o conturbado cenário político
brasileiro, desde o governo de Fernando Collor de Melo até a era Dilma Rousseff,
que alimentou a imprensa nacional e internacional com reportagens picantes,
recheadas de escândalos de corrupção.
Dentre seus trabalhos
mais importantes, Molina destaca em ‘Brasil na fita’ a manobra montada por
inimigos políticos do agora vereador Mário Frota, ocorrida em junho de 2001, na
tentativa de envolvê-lo em escândalo de corrupção, onde ele aparece,
supostamente, tentando subornar um empresário de Manaus. Chamado, pela segunda
vez, para comprovar a autenticidade das provas, Molina descobre que o autor da
gravação da conversa foi o ex-assessor de Mário, Nivaldo Marinho, que recebeu
R$ 12 mil para montar a farsa imitando a voz do parlamentar. Com medo de ser
executado como queima de arquivo, Marinho se apresentou à Polícia Federal,
contou como tudo aconteceu e entregou seus comparsas.
O autor dedica cinco
páginas do seu livro (de 182 a 186), para esclarecer a fraude montado pelo
deputado federal Pauderney Avelino e o então secretário de obras, João Coelho
Braga, que, segundo Marinho, estavam à serviço de Amazonino Mendes, desafeto de
Mário Frota.
Na época o então
deputado estadual Mário Frota, numa suposta conversa telefônica com o
empresário David Benayon, foi acusado de intermediar propina no valor de 5
milhões de dólares para o senador Jader Barbalho, que era o presidente
licenciado do Senado. Esse dinheiro serviria para liberação de um financiamento
de 40 milhões de dólares para Benayon implantar uma indústria de artefatos de
borracha.
A denúncia foi divulgada
como “furo de reportagem” pela revista Isto É, edição de 25 de julho de 2001, e
trazia no título da matéria: “Jader quer 5 milhões de dólares”, onde Mário
Frota aparecia como o intermediador da propina. Porém a editora não teve a
preocupação de mandar fazer uma perícia para autenticar se a voz era de Mário
Frota. Ricardo Molina foi consultado pela revista apenas para periciar se a
fita continha montagens, se era verdadeira. “O meu trabalho concluía não haver
manipulação, montagem ou edição na fita. Esse laudo restringia-se à
autenticidade material. Nada dizia a respeito da identidade da voz atribuída a
Mário”, lembra Molina.
Depois de desmontada a
armação, a revista Isto É, de 22 de agosto, estampava manchete em sua capa: “Armação
amazônica”, onde a reportagem esclarecia a verdade dos fatos, inocentando Mário.
Porém o efeito devastador dos estragos causados à reputação de Mário Frota -
conhecido pela sua luta incessante contra a corrupção e ferrenho opositor da
ditadura militar - foram superior à retratação diante das provas da sua
inocência.
Depois de tudo
esclarecido, Mário Frota processou seus difamadores. João Coelho Braga, o
Braguinha foi indiciado pela Polícia Federal e a revista Isto É foi condenada a
pagar R$ 1 milhão por danos morais, mas até hoje o parlamentar não viu nenhum
centavo desse dinheiro. (Por: Roberto Pacheco
– MTb 426).
A seguir a veja alguns
trechos da reprodução do livro de Molina, onde ele fala do ‘caso Mário Frota’.
“A farsa com o Frota: um assessor bom de circo”
(Por:
Ricardo Molina*)
A
manchete da revista Isto É de julho de 2001 era categórica: “Jader quer 5
milhões de dólares”. A denúncia baseava-se em uma gravação na qual,
supostamente, o deputado estadual pelo Amazonas Mário Frota (na época PSDB, mas
que circulou por vários partidos), em conversa com seu amigo, o empresário
David Benayon, revelava um esquema que favorecia Jader Barbalho, então
presidente licenciado do Senado.
Mário Frota: Alô, David? Tudo bem, irmão? É Mário...
Eu estive lá em Brasília e conversei pessoalmente com o Jader, mas não mudou
muito em relação àquele acerto que havíamos feito anteriormente, ele não abriu
mão em nada, as comissões são aquelas mesmas, ele que 5 milhões de dólares para
resolver o teu problema... A garantia que ele deu é que o dinheiro sai de
qualquer jeito, dependendo mais de você do que dele. Mas o Tourinho só faz o
que ele quer; Jader mandando, tá resolvido.
O Tourinho citado na gravação é José Artur Tourinho, então no
comando da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e
apadrinhado de Jader Barbalho. Já no dia seguinte, Frota entrou com uma
representação no Ministério Público Federal para apurar a responsabilidade
criminal da gravação veiculada pela revista. Afirmava não ser dele a voz da
pessoa intermediando o pagamento da propina.
..........
O deputado Frota afirmava que a gravação era uma fraude,
“imitação barata e grotesca”, forjada pelo seu ex-assessor parlamentar Nivaldo
Marinho. Acusava também o governador Amazonino Mendes, inimigo figadal, de ser
o artífice da armação. Segundo o deputado, Marinho tinha o hábito de
imitá-lo...
..........
A
reportagem publicada pela Isto É informava que um laudo meu concluía “não haver
manipulação, montagem ou edição na fita”. Esse laudo restringia-se à
autenticidade material da fita. Nada dizia a respeito da identidade da voz
atribuída a Mário Frota... Nesse primeiro momento, não me foi solicitado o
exame de identidade de voz e eu nem dispunha de amostras de referência.
..........
Como a denúncia
apontava para Jader Barbalho, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do
Senado criou uma comissão especial para apurar o caso. O senador Romeu Tuma me
telefonou perguntando se eu aceitaria realizar um laudo complementar de
identificação de voz. Na época os laudos não eram mais emitidos pela Unicamp, e
sim pelo meu próprio laboratório particular...
..........
Em 9 de
agosto, fui a Manaus com meu assistente Donato Pasqual Júnior para colher
amostras de voz do deputado Frota e do ex-assessor Nivaldo marinho, o suposto
imitador. Mas não apenas isso. Como Marinho afirmara que escondera um
minigravador atrás do aparelho de fax, e que a fala fora captada quando o
deputado usava o celular a uma distância de pouco mais de 1 metro do aparelho,
fizemos uma reconstituição da cena na casa do deputado, onde teria ocorrido a
gravação.
O
deputado garantia que na sala indicada pelo ex-assessor nunca houve um aparelho
de fax... Já durante a reconstituição percebemos que Marinho mentia. Em
primeiro lugar, nos contava uma história diferente daquela publicada pela Isto
É.
..........
Voltando a Campinas, já no laboratório, confirmamos que Frota
foi vítima de uma fraude. A voz com certeza não era dele e havia fortes
indícios de que fosse de Nivaldo Marinho.
..........
Após a emissão do laudo, o ex-assessor se dizia arrependido,
pois “estava com medo de virar cadáver”, e lamentou: “Maldita fita”. Em 10 de
agosto, em Manaus, havia feito novas declarações à Polícia Federal: recebera 12
mil reais para imitar a voz, em uma ação tramada com o deputado federal
Pauderney Avelino (PFL-AM) e o secretário de Obras do Amazonas, João Coelho
Braga. Os dois, segundo Marinho, disseram que falavam em nome do governador do
Amazonas, Amazonino Mendes, inimigo político do deputado Frota e aliado de
Jader Barbalho.
A manchete da Isto É de 22 de agosto era bem diferente daquela
de 25 de julho. Agora, tudo esclarecido, a capa da revista estampava: “Armação
amazônica”.
·
*Ricardo
Molina de Figueiredo professor da Unicamp (Campinas) é um dos mais conhecidos
peritos em fonética forense do Brasil, tendo atuado em alguns casos como
Assistente Técnico em processos judiciais criminais e Perito em processos
cíveis; seu trabalho consiste principalmente em analisar arquivos de áudio e
vídeo em busca de edições falsas ou procurando identificar a voz do locutor,
atuando também em outras áreas de perícia técnica. Chegou a estudar engenharia,
mas graduou-se em composição e regência pela Unicamp, com mestrado em
Linguística e doutorado em Ciências, na mesma instituição.
Para entender melhor:
Veja a reportagem da Isto É, da época: