O filme Tropa de Elite 2 deveria ter sido apresentado um mês antes das eleições. É possível que muita gente tivesse votado melhor, de forma mais responsável, ou seja, apostado em candidatos verdadeiramente com a ficha limpa, com passado de lutas em favor do povo e não em notórios corruptos, figuras amorais que apóiam qualquer prefeito ou governador de plantão, desde que as sobras da mesa do poder escorreguem um pouco para os seus bolsos.
Tropa de Elite 2, rodado no Rio de Janeiro, nos mostra, com pormenores a realidade de um país apodrecido, com um povo votando nos piores elementos da sociedade, nos mais podres, em bandidos disfarçados em homens públicos. Assisti o filme e confesso que, ao longo da minha vida, nunca vi uma denúncia mais real e trágica da situação em que vive o Brasil e o seu povo.
É a arte retratando a vida. Filmes como Tropa de Elite 2 espelham e retratam a vida dos políticos brasileiros, tomando o Rio de Janeiro como exemplo. É óbvio que a podridão que inspirou o filme não está somente localizada no Rio de Janeiro, mas em todo o país, inclusive aqui, basta ver a cara de muitos dos eleitos e dos chamados fichas sujas que despudoradamente o povo elegeu, mas que, até o presente momento, ainda não tiveram os seus votos computados.
O pior dos exemplos é o super ficha suja Adail Pinheiro. Corrupto comprovado, preso como ladrão do dinheiro público e aliciador de menor (pedófilo). Apesar de ostentar tal currículo, ainda obteve 22 mil votos, sendo que 12 mil em Coari, onde foi prefeito e de lá saiu para a cadeia, e 10 mil em outros municípios, incluindo Manaus. Como Adail obteve tantos votos? Por que tem lindos olhos azuis? Coisa nenhuma, simplesmente porque usou o dinheiro roubado para comprar votos do povo pobre e inconsciente do nosso estado.
No momento em que assistia o filme lembrei-me que, há tempos atrás, o maior traficante de cocaína do mundo, o colombiano Pablo Escobar, apesar de procurado pelas polícias do mundo inteiro, no seu país seria, caso a justiça o permitisse, eleito a qualquer cargo eletivo, a exemplo de deputado, senador ou governador. A sua morte causou grande sofrimento ao povo, com muita gente chorando pela perda do criminoso mor do país. Os que mais sentiram a perda de Pablo Escobar foram as populações mais necessitadas, que o chamavam de paizinho dos pobres. O que elas chamavam de o paizinho dos pobres não era outro senão um criminoso que assassinou centenas de pessoas e destruiu a vida de milhões de jovens, mundo a fora.
Ao deixar o cinema, lembrei-me do historiador e pensador Capistrano de Abreu que, há cinqüenta anos, sugeriu que a constituição brasileira deveria ter apenas dois artigos: Art. 1º - Todo brasileiro deveria ter vergonha na cara. Art. 2º - Revoguem-se as disposições em contrário. Capristrano morreu sem acreditar que o Brasil pudesse ter um grande futuro. Saí do cinema com uma sensação de derrota. O que fazer para esse povo melhorar as suas escolhas na hora de votar? Por que tantos brasileiros sentem um certo fascínio pela figura do corrupto, não o olhando como um criminoso, um ladrão do seu dinheiro, mas como um vencedor, um vitorioso?
Mais brasileiros poderiam ver esse filme, em minha opinião mais importante do que muitos tratados de sociologia política. Quem sabe se na próxima eleição, em vez de votar nos Tiririca da vida, nos Adail, não votam de forma mais ajuizada, responsável? Ao contrário de Capistrano de Abreu, continuo acreditando que o Brasil tem um futuro. Talvez por ser um sonhador, continuo acreditando.
Por: vereador Mário Frota
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da CMM
Líder do PDT na CMM