Veja: Reflexão sobre os limites éticos do mercado como mediador das relações
humanas.
Texto:
Vereador Mário Frota*
Embora
entenda tratar-se de prostituição, vender a virgindade só afetou a ela própria,
ao contrário do mensalão, onde políticos da cúpula do PT roubaram dinheiro
público para comprar votos de outros pilantras igualmente corruptos.
A jovem catarinense Ingrid Mighiorini
vendeu a virgindade e parlamentares integrantes do Congresso Nacional
negociaram votos por dinheiro, num escândalo que ficou conhecido por mensalão.
Nesse mundo sem freios éticos, em que se vende tudo, a honra e até a alma, o
que ainda não pode ser transformado em moeda de troca?
Nessa semana a revista Veja, numa matéria
de fundo, das melhores publicadas neste ano, comentou, em forma de reflexão, os
limites éticos do mercado como mediador das relações humanas. Ao longo da
extensa reportagem, com o título de “Nem tudo se Compra”, os redatores se
esmeram e se aprofundam no passado da humanidade em busca de ensinamentos, a
exemplo dos ministrados pelo filósofo grego Aristóteles, o gênio que assentou a
pedra fundamental da catedral de valores éticos e políticos, que nos orienta
hoje a condenar a menina que vendeu sua virgindade e a canalhada do PT que, no
Congresso Nacional comprou votos, dando origem ao escândalo do mensalão.
No mundo que se vive, alguém pode até dizer
que do ponto de vista econômico vender a virgindade não é grande coisa,
principalmente se o que vende e o que compra são adultos, agiram de livre
vontade e ninguém saiu prejudicado. Pelo ponto de vista do capitalismo tudo
pode parecer simples, mas não é. Dois
mil anos depois, outra mente brilhante, no caso o filósofo alemão, Immanoel
Kant, aprofunda tal discussão e, a exemplo do mestre Aristóteles, também discorda da transação como a
protagonizada pela catarinense Ingrid Mghiorini. Como pensador moral, Kant
discorda trocar sexo por dinheiro, fato que, em sua opinião, é degradante para
ambos os parceiros. E sentencia: “o homem não pode dispor de si próprio como se
fosse uma coisa; ele não é sua propriedade”.
Saltando para o caso dos mensaleiros da
cúpula petista, que usaram dinheiro público para comprar votos de parlamentares
do Congresso Nacional, com objetivo de aprovar projetos de lei para favorecer a
primeira administração do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, dentro do
ensinado pelos filósofos acima citados, moralmente não é muito diferente do ato
praticado em que uma jovem negocia, ou seja, oferta em leilão, pelo melhor
preço, a sua virgindade.
Pessoalmente, embora entenda tratar-se de prostituição
o que fez a jovem de Santa Catarina, fato que obviamente deve ser criticado,
até como forma de impedir que outras jovens façam o mesmo, a verdade é que a
moça só afetou a ela própria, ao contrário dos envolvidos no caso do mensalão,
onde políticos da cúpula do PT roubaram dinheiro público para comprar votos de
outros pilantras igualmente corruptos, num processo prenhe de ambição, com o
objetivo torpe de controlar a Câmara e o Senado, dobrando-os à vontade do
chefão do esquema, no caso o próprio Lula que, entre outras, tinha por sonho o
terceiro e um quarto mandato, inspirado na aventura do ditador vizinho Hugo
Chaves. Esse fato só não aconteceu porque o Brasil não é a Venezuela e a
imprensa brasileira estava e está de olhos bem abertos para esse tipo de
manobra.
Em síntese, concordo em gênero, número e
grau, com a revista Veja: “Vender a virgindade e comprar o apoio de partidos
políticos são duas atitudes que revelam em seus autores a mesma concepção
utilitarista e rasa da vida. Uma degrada a intimidade. A outra ultraja a
democracia.”
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.