Por:
Vereador Mário Frota*
Por
que o Marcelo Ramos não consertou o sistema de transporte coletivo de Manaus
quando foi secretário de transportes? Por causa de políticos cara de pau como
esse moço é que o povo, dia a dia, mais perde o respeito pela classe política
deste País... Crítico ferrenho do então prefeito Buchada de Bode, Marcelo sofre de
amnésia, e esqueceu da tragédia que, na condição de secretário na gestão
Serafim Correia, aprofundou o caos no sistema quando engendrou, com os
proprietários de ônibus, uma licitação fajuta, super viciada, que deu origem a
um monstrinho: o Consórcio Transmanaus, de triste memória, que trouxe ônibus
sucateados para Manaus.
Por mais que bote a cachola para funcionar,
não consigo entender as razões que levaram o Marcelo Ramos a aceitar ser
candidato a Prefeito pelo partido do senador Alfredo Nascimento. Pior ainda
quando, ao abrir a televisão, encontro no programa político o Marcelo
criticando a administração do Arthur Virgílio Neto no quesito transporte
público.
No primeiro caso poderia imaginar tudo,
menos, é claro, que o Marcelo Ramos, que teve origem política num partido de
esquerda, como o PSB, fosse terminar no colo do Alfredo Nascimento, político
que, na condição de vereador, sempre o criticou pelas suas práticas políticas,
assemelhadas a do seu padrinho político, Amazonino Mendes.
Para se ter uma ideia da confusão política
que o Marcelo Ramos se envolveu ao ingressar no partido do Alfredo Nascimento -
conhecido em certas rodadas por Buchada de Bode - no dia em que o fato foi
noticiado, ao entrar no Supermercado DB,
da Umberto Calderaro, um jovem veio ao meu encontro e, a queima roupa, me
perguntou: “vereador, o senhor não acha que ao ingressar no partido do Alfredo
Nascimento, o Marcelo deu um tiro no pé”? Encarei o moço e, na bucha, respondi:
‘filho, não foi apenas num pé que ele atirou, mas nos dois’.
Outra patuscada do Marcelo Ramos é a
propaganda que ele ora apresenta no programa político detonando a administração
do Arthur no quesito transporte coletivo. Entre outras críticas, afirma que o
setor está abandonado e falido. Primeiro,
faltou senso de honestidade no pupilo do Alfredo para reconhecer que, o que aí
está já vem se arrastando há várias administrações do município, embora tenha se
aprofundado na instalação do Expresso, mais conhecido pelo povo por ‘extresso’,
projeto tocado pelo seu agora ‘papai político’ quando prefeito. Segundo, como
sofre de amnésia, também esqueceu da tragédia que, na condição de secretário da
então Secretaria Municipal de Transportes Urbanos (SMTU), na gestão Serafim
Correia, aprofundou o caos no sistema quando engendrou, com os proprietários de
ônibus, uma licitação fajuta, super viciada, que deu origem a um monstrinho: o
Consórcio Transmanaus - de triste memória.
Aquele consórcio foi uma pouca vergonha. E
vou explicar, ponto por ponto. Primeiro, o titular da SMTU e os proprietários
de ônibus camuflaram as velhas e carcomidas empresas, trocando os seus nomes,
para dar ideia à sociedade manauara de que, a partir da licitação em curso, as
empresas vencedoras seriam todas novas. Como mentira tem perna curta, logo o
nosso povo percebeu que havia caído num tremendo conto do vigário, ou seja, o
que aconteceu foi pura malandragem, ou melhor, só ocorreu mesmo a mudança de
nomes, em outras palavras, “tudo dantes como no quartel de Abrantes”.
Vitorioso o tal “consórcio”, o Serafim
aumentou a passagem de ônibus que era R$ 1,80 para R$ 2,00, “tudo”, segundo
explicou à sociedade, via imprensa, “fruto de uma negociação com os donos de
ônibus comprometidos em trazer 500 coletivos novos para substituir os velhos,
caindo aos pedaços, que infernizavam os usuários do sistema de transporte
coletivo da cidade”.
Talvez porque, na condição de vice vinha
fazendo críticas ao sistema, numa sexta-feira o Serafim me telefonou e me
convidou para a entrega oficial dos primeiros 80 ônibus. A entrega ocorreu, num sábado pela manhã, na Avenida
Constantino Nery, nas proximidades do Olímpico Clube. Cheguei por volta das 9h e,
ao avistar os ônibus brilhando ao sol, confesso que senti uma grande alegria.
Depois de cumprimentar o Serafim e vários
donos de ônibus presentes ao ato, retornei ao carro e, mais contente do que
pinto no xerém, dirigi-me ao Marden, o meu motorista: ‘veja, meu rapaz, os
ônibus novilhos em folha que, a partir de hoje, o nosso povo vai poder usufruir’.
Ele olhou-me, sorriu e, em tom sarcástico, disparou: “dê uma olhada no segundo
ônibus da fila. Ele está soltando óleo na pista”. E completou: “alguém já viu
isso em ônibus novo? Dê uma olhada nos pneus: ônibus novo usa pneu careca?
Essas sucatas foram tão mal pintadas que, na pressa, sequer isolaram as borrachas
de vedação das janelas, todas estão manchadas de tinta”, observou. Não
satisfeito, afirmou: “agora vou lhe mostrar o pior”. No fim da fila parou o
carro, apontou o dedo para a traseira de dois ônibus articulados da linha Expresso,
e afirmou: “veja, foram tão econômicos na tinta que as cobras entrelaçadas da
União Cascavel ainda estão visíveis”.
Sem dar uma palavra, com o coração em
desabalada, pedi que me levasse para casa. Entrei, tomei um comprimido de Lexotan
para me acalmar, e fiquei imaginando o que fazer. Às oito horas da manhã, da
segunda-feira, cheguei à Prefeitura, empurrei a porta do Serafim, e fui logo dizendo:
‘Serafim, fomos enganados! Os pilantras das empresas nos passaram gato por
lebre, no mínimo 80% daqueles ônibus são velhos, tudo sucata. Serafim levantou
e perguntou que tipo informação eu tinha para lhe transmitir tão grave
denúncia. Contei-lhe as razões que me foram reveladas pelo meu motorista e, em
seguida, o aconselhei a nomear uma comissão de peritos (mecânicos da nossa
confiança) para investigar de um a um os 80 ônibus em questão. Prometeu-me que
iria tomar as providências, mas não mexeu uma palha para saber a verdade sobre
a grave denúncia que ora lhe coloquei nas mãos.
Resultado: em poucos meses os ônibus
começaram a quebrar. Certa vez, num giro pela cidade, encontrei cinco deles parados
por defeito. Esses ônibus, sucatas desamassadas e pintadas foram os mesmos que,
nos primeiros meses da administração do Amazonino, vez por outra pegavam fogo,
com gente pulando pelas janelas para escapar das labaredas. Uma pergunta que
não quer calar: Por que o Marcelo Ramos não consertou o sistema de transporte
coletivo de Manaus quando da sua passagem como secretário da SMTU? É por causa
de políticos cara de pau como esse moço é que o povo, dia a dia, mais perde o
respeito pela classe política deste País.
*Advogado;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM
Foto: portalamazonia.com