sexta-feira, 14 de março de 2014

O PODER DEGRADOU O PMDB




O então Senador Ulisses Guimarães, presidente do MDB e da Assembleia Constituinte


Por: Vereador Mário Frota*
Que diferença: no passado um grande partido, hoje, apenas, um ninho de espertalhões políticos sequiosos de poder e dinheiro, ou seja, um partido em nada diferente do enlameado PT, sem botar nem por.
Por que o PMDB, herdeiro do glorioso MDB, partido que, em momentos sombrios da vida nacional enfrentou e derrotou a ditadura militar, com o passar dos anos sofreu profunda degradação moral, ao ponto de se transformar na coisa que aí está, ou seja, em mero balcão de negócios, um toma lá dá cá a serviço de qualquer governo, seja de direita, centro ou esquerda, integrado por políticos honrados, ou meros assaltantes do dinheiro público, a exemplo do PT dos mensaleiros?
Digo tudo isso porque, ainda estudante de direito, na condição de Presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade do Largo dos Remédios, participei ativamente da fundação do MDB no Amazonas, carregando para cima e para baixo o livro de filiação do partido, criado com objetivo de fazer oposição ao regime autoritário instalado, via golpe militar, em 1964. Pela lei, aqui no Amazonas precisávamos de 10 mil assinaturas, sem as quais o partido não poderia fazer filiações e disputar eleição. Frente a tal situação, pois que muita gente tinha medo de assinar o livro, procurei o apoio da minha família, recolhendo assinaturas dos meus pais, irmãos, primos, tios, e mais quem estivesse por perto e que eu pudesse convencer.
Passado os tempos, já deputado federal pela legenda, um amigo meu, deputado estadual, um tanto espantado, fez-me a seguinte observação: “Mário, ontem folheando o livro das filiações, que deram direito ao MDB do Amazonas transformar-se em partido legal, vi que a tua família assinou em peso. E se ocorresse um recrudescimento e toda a tua família fosse presa, incluindo você mesmo, não seria uma coisa terrível”? Respondi-lhe: ‘coisa nenhuma companheiro, pelo menos todos estaríamos juntos, solidários, esperando o dia que seríamos soltos’. Espantado, reagiu: “nunca vi maior maluquice”.
Em 1974 o então vereador Fábio Lucena, à época o mais destacado líder da oposição no Estado, ao ser impedido pelos militares de concorrer à eleição daquele ano, resolveu escolher o meu nome para substituí-lo na chapa de deputado federal. Aceitei o convite e fui o mais votado no Estado. O MDB, sob o comando do Dr. Ulisses Guimarães, embora minoria nas duas Casas do Congresso Nacional reagia e buscava encontrar caminhos para o Brasil chegar ao pleno estado de direito. Eram dias heroicos aqueles. Ao chegar à Câmara, filiei-me ao chamado Grupo Autêntico do MDB, a facção mais aguerrida no enfrentamento à violência e opressão emanada do poder ditatorial.
Passada a eleição de 1978, o governo da ditadura aprovou lei no Congresso obrigando às agremiações partidárias a usar o P. Eis, portanto, a razão porque o MDB virou PMDB. Em 1982 ocorreu eleição para governador de Estado.  O PMDB foi o grande vitorioso, esmagando o PDS, o partido da Ditadura. A partir daí o partido de Ulisses Guimarães só cresceu, agigantou-se. Pena porque, a partir desse histórico momento, tem início a decomposição da agremiação que derrotou o regime autoritário de 1964. O problema é que esse crescimento foi responsável também pela sua derrocada em nível nacional. Só alguns exemplos: aqui o controle do partido saiu das mãos do Fábio Lucena para o Gilberto Mestrinho e, no Maranhão, assumiu José Sarney, o homem que, até bem pouco tempo, controlava o partido que dava sustentação à ditadura militar.
A verdade é que o Poder degradou profundamente o PMDB, transformando-o nesse bolo disforme que apoia quem lhe dá mais. A rebelião no início desta semana, traduzida pela união do PMDB com a oposição, redundou na convocação da Petrobrás pelo Congresso Nacional, que passa, a partir de agora, a investigar graves denúncias de corrupção que atingem a estatal. Ora, isso só aconteceu, obviamente, porque os poderosos do PMDB não foram atendidos nas suas exigências de controlar mais ministérios. Que diferença: no passado um grande partido, hoje, apenas, um ninho de espertalhões políticos sequiosos de poder e dinheiro, ou seja, um partido em nada diferente do enlameado PT, sem botar nem por.

*Advogado;
*Líder do PSDB na CMM;
*Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.