sábado, 2 de novembro de 2013

A EXTINÇÃO DA ZONA FRANCA SERIA UMA TRAGÉDIA





Em termos de desenvolvimento, poderemos voltar à estaca zero, pior do que na primeira década do século passado, quando fomos superados pelos asiáticos, depois do ciclo da borracha (1879-1912 - nessa época a Amazônia era responsável por quase 40% das exportações brasileiras).

Texto: Vereador Mário Frota*
Seria um bom começo se os futuros governadores deste Estado saíssem da lerdeza e da acomodação histórica, desse longo sono em berço esplêndido e começassem a lutar pela instalação de um parque petroquímico no Amazonas.
Os militares, no governo do general Humberto de Alencar Castelo Branco, nos deram, numa bandeja de prata, a Zona Franca de Manaus, hoje oxigênio econômico por onde respiramos. Sem os incentivos da Zona Franca voltamos à condição de porto de lenha, ou seja, em termos de desenvolvimento, à estaca zero, bem pior do que ocorreu na primeira década do século passado, após sermos superados pelos asiáticos na produção  de borracha.
E explico: quando por volta de 1910 a economia do Estado foi à bancarrota, as populações interioranas permaneceram nos seus rincões, vivendo e sobrevivendo dos produtos do extrativismo que a natureza lhes podia dar. Além da extração da borracha – que passou a ser negociada com preços super reduzidos - restava a castanha, a sorva, a balata, a madeira, sem falar na pesca ao peixe-boi, aos quelônios, ao pirarucu, ao tambaqui e a venda de couros de animais silvestres, a exemplo do jacaré, da lontra, da onça e do gato maracajá.
Hoje, mais da metade da população do Estado está concentrada em Manaus, a maior cidade da Amazônia, uma megalópole onde residem quase dois milhões de pessoas. Por outro lado, alguns produtos, dos acima citados, como a borracha e a castanha não têm preço compensador no mercado, enquanto outros, a exemplo dos animais silvestres, a comercialização da carne e do couro é proibida, sem falar na questão que envolve a captura de certos peixes, duramente controlada em respeito à preservação de tais espécies.
Eis aí, com dados e números apresentados, a razão porque hoje a situação do Amazonas, caso haja a extinção da Zona Franca de Manaus, é muitas vezes pior do que aconteceu quando a economia do Amazonas foi à falência, época em que o modelo da borracha deu com os burros n’água. Hoje a tragédia seria multiplicada por dez, cem, ou quem sabe por mais de mil. É bom até afastarmos de nossas mentes essa apocalíptica hipótese.
Quase meio século depois, os governantes deste Estado ainda não pensaram em criar novos polos de desenvolvimento em substituição da Zona Franca. Estamos presos ao modelo da Zona Franca, assim como certos países que descobriram petróleo a ele ficaram amarrados, a exemplo da Venezuela, o quinto produtor do mundo.  Apesar da abundância de petróleo, a Venezuela vive hoje momentos difíceis, enfrentando uma voraz inflação, responsável pela degradação da sua moeda, das mais desvalorizadas das Américas. Enquanto para uns poucos países o petróleo foi uma bênção, para a maioria tornou-se uma maldição. A Venezuela é o pior exemplo disso.
Do início da Zona Franca aos nossos dias quase 50 anos se passaram. Agora os nossos políticos, em Brasília, gastam a sola dos sapatos percorrendo gabinetes de ministros e parlamentares em busca da ampliação do modelo da nossa Zona Franca por mais 50 anos. E é de se perguntar: será que daqui a 50 anos os nossos filhos e netos estarão de novo correndo atrás de políticos para conseguir prorrogar a Zona Franca por mais 50 anos? Espero que até lá alternativas outras hajam surgido. Já não é hora de pensar num parque petroquímico, a exemplo do de Camaçari que alavancou a economia da Bahia? Temos mais petróleo e gás natural do que a Bahia e, no entanto, não temos direito a um parque petroquímico. Não seria um bom começo se os futuros governadores deste Estado saíssem da lerdeza e da acomodação histórica, desse longo sono em berço esplêndido e, a partir de agora, começassem a lutar pela instalação de um parque petroquímico no Amazonas?  Nunca é tarde para um bom começo.

*Advogado;                                     
*Líder do PSDB na CMM;
*Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM. 
Foto: http://deixesuamarcanomundo.blogspot.com.br/2011/06/amazonia-super-interessante.html