ENQUANTO MANAUS INCHA E CRESCE DESORDENADAMENTE, IMPULSIONADA PELO PROGRESSO DA ZONA FRANCA, O INTERIOR FICA MAIS POBRE GEMENDO NO ABANDONO. PRECISAMOS CRIAR OUTROS PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO. Viajando pelo interior, percebe-se, claramente, que nesses últimos 20 anos pouca coisa mudou. O que mudou foi o crescimento das sedes dos municípios em detrimento da área rural, cada dia mais pobre e abandonada.
Por que os governadores só têm olhos para Manaus? O forte dos investimentos dos últimos governadores foi na capital do estado. E por quê? Porque Manaus concentra quase 60 por cento da população do Amazonas. A questão é, portanto, de interesse eleitoral.
OS GOVERNADORES SÓ TÊM OLHOS PARA MANAUS
O que se vê, portanto, é Manaus com dois prefeitos. O prefeito eleito pelo povo e o governador que, também, faz às vezes de prefeito. Em busca do apoio das massas moradoras de Manaus, aqui somas gigantescas são gastas em obras, a exemplo da ponte que liga as margens do Rio Negro, do Prosamim, dos conjuntos residenciais para populações de baixa renda, tomada d’água para a zona leste e norte, rede de colégios para o ensino integral, entre outras.
Ninguém é contra essas obras. O problema é que Manaus tem um prefeito com um orçamento generoso, sem falar nos convênios milionários celebrados com o governo federal. Por que, então, o governador não faz convênios com a Prefeitura para a execução dessas obras de interesses do município de Manaus? Ora, pelo que consta, a Prefeitura Municipal de Manaus tem a necessária estrutura técnica e administrativa para a execução de tais obras.
Caso isso acontecesse, o governador do Estado poderia dar uma melhor atenção ao interior do Estado, levando o progresso e o desenvolvimento aos demais 61 municípios, todos com graves problemas na área da saúde pública, da educação e da segurança. Em todos esses municípios o desemprego campeia. Os jovens terminam o segundo grau e, no máximo, lhes sobra fazer um curso de licenciatura para professor. Resultado: sem emprego, desestimulados, abandonam os municípios onde nasceram e procuram a capital do Estado, na esperança de conseguir um emprego nas fábricas do Distrito Industrial da Zona Franca, ou na área do comércio.
O próximo governador tem que “esquecer” Manaus, que já tem quem a governe, e se voltar para o interior do Amazonas. Deve ele deixar que o prefeito cuide da capital. O certo é que os municípios do interior sejam beneficiados com obras capazes de alavancar o desenvolvimento do Estado como um todo.
O AMAZONAS SÓ TEM A ZONA FRANCA, ENQUANTO O PARÁ TEM HOJE MAIS DE 10 GRANDES PÓLOS EM DESENVOLVIMENTO.
Chegou o momento de o Amazonas ter um crescimento harmônico, a exemplo do Pará. Enquanto Manaus só possui um pólo de desenvolvimento, que é a Zona Franca, no Pará pode-se contar com mais de 10, todos em franco desenvolvimento, a exemplo do pólo do ferro de Carajás, do alumínio de Trombetas, dos pólos agropecuários do Sul do Pará e da Ilha de Marajó, dentre outros. Daí a razão porque Manaus concentra quase 60 por cento da população do Estado, enquanto em Belém vive apenas 23 por cento da população do Pará. A diferença é gritante. Saindo de Manaus, em qualquer direção, a miséria campeia. O povo pobre dos beiradões, órfãos de qualquer ajuda do governo, só não morre de fome porque do rio ele pode retirar um peixinho para comer. Mas é só.
FALTA EMPREGO E SOBRA MISÉRIA NO INTERIOR
Vejamos, como exemplo, a região do Alto Solimões. Hoje, as populações que vivem nesse local, assim como no resto de todo o interior do Amazonas, estão proibidas de retirar madeira até para construir a própria casa ou mesmo uma canoa, assim como não podem caçar ou pescar. É um absurdo. Com o fechamento das serrarias tradicionais, desapareceu o emprego e aumentou a miséria. Os jovens terminam o segundo grau e não têm o que fazer, pela ausência de empregos na área. Desesperados, muitos deles terminam enveredando pelo perigoso caminho das drogas. No início o garoto é usado como ‘aviãozinho’ pelos traficantes, mas, com o passar do tempo, passa à condição de traficante e, daí para frente, o seu destino está selado: ou termina morrendo pelas balas da polícia, ou assassinado pelos próprios traficantes.
A COCAÍNA INUTILIZA E MATA MAIS JOVENS DO QUE QUALQUER DOENÇA
O pior mesmo é que esses jovens, que se envolvem com o tráfico, terminam usuários das drogas, causando imenso sofrimento para os pais e insegurança a toda a comunidade, o que é uma tragédia. A maconha é a primeira experiência. Logo chega a vez da cocaína e seus derivados, que atinge de cheio os municípios, principalmente do médio e alto Solimões. Milhares de jovens viciados, perambulando pelas ruas. Os pais estão desesperados porque não sabem a quem recorrer. Agora mesmo, em Tefé, ouvi duas mães desesperadas, em lágrimas, me dizendo que não sabem mais o que fazer para salvar seus filhos. O que aumenta o sofrimento dos pais desses garotos, é que não há, em todo o interior do Estado, um órgão do governo para ajudar na desintoxicação das populações atingidas pelo monstro das drogas. Para o governo é como se o problema não existisse e, por isso mesmo, lava as mãos.
AS POPULAÇÕES DO INTERIOR VIVEM NO MAIS CRUEL ABANDONO
As populações do nosso interior vivem no mais cruel abandono. Como se não bastasses o IBAMA, que não deixa o homem do interior caçar, pescar e derrubar uma árvore para construir a sua casa, ou uma simples canoa, agora o governo do Estado completou o quadro com a tal da Polícia Ambiental - um braço da Polícia Militar. O nível de violência e perseguição chegou a tal ponto, que até as casas são invadidas para ver o que tem dentro da panela. Caso seja encontrado carne de caça, quelônio, ou peixe proibido a captura naquela época, o alimento é jogado fora, quando não levado para servir de prova do crime, segundo argumentos dos policiais.
DESCENDO AS ESCADARIAS DO INFERNO
Os deputados estaduais e os integrantes da bancada federal, em Brasília, que deveriam defender o povo do interior, vítimas desses abusos e maldades, ficam calados, metem a viola no saco e, com isso, terminam por dar razões e a proteger os que humilham os coitados que ainda resistem no interior à tentação de vir embora para Manaus e, aqui, apodrecer com os seus familiares em mais uma das muitas favelas da periferia, marcadas pela falta de água, esgotos, iluminação e, o pior, segurança policial. Essas pessoas vivem sob controle das galeras, de bandidos ligados às drogas, de marginais que assaltam e, depois, fogem da polícia se refugiando nessas favelas. As pessoas fogem do abandono do interior e, ao final, terminam, juntamente com os seus familiares, vítimas da grande cidade, desumana, feroz, onde o filho termina se envolvendo em assaltos e a filha resvalando para a prostituição. Esse, infelizmente, tem sido o destino de muitos jovens que chegam à nossa Manaus acreditando que, aqui, vão conseguir trabalho para sair da pobreza, mas, muitas vezes, terminam descendo as escadarias do inferno.
O QUE ENTÃO FAZER PARA RETIRAR O INTERIOR DO AMAZONAS DA POBREZA A QUE ESTÁ CONDENADO?
Defendo que, em primeiro lugar, deve o governo garantir, principalmente, escolas técnicas profissionalizantes e programas econômicos, respeitando a vocação produtiva de cada município, capazes de gerar emprego e renda para os moradores, para segurar as famílias nas sedes dos municípios e nas comunidades, com a forma mais segura de não deixar que migrem para Manaus e outros centros urbanos. O que está faltando para que isso venha a ocorrer? Entendo que o governo deve começar por incentivar os bancos que já existem nos municípios a instalar carteiras de crédito agrícola para financiar a quem precisa de recursos para tocar a criação de animais e a produção de produtos agrícolas, principalmente os produzidos nas áreas de várzea, excelentes para a produção de grãos, a exemplo do feijão, arroz, milho e de outros produtos.
POR QUE AS VÁRZEAS DO RIO NILO PRODUZEM TANTO E AS DO AMAZONAS NADA?
Atualmente, as várzeas do rio Nilo, que corta o Egito, alimenta mais de 200 milhões de árabes. Os nossos rios têm centenas de vezes mais áreas de várzea do que o rio Nilo, mas, até a presente data, por falta de uma política de incentivos dos nossos governantes, ainda não alimenta nem mesmo os que lá vivem, ou seja, os próprios ribeiros. Isso é uma vergonha. Poderíamos estar hoje alimentando o Amazonas e o resto do país, mas os que nos governam estão se lixando para o povo do interior. O último governador que olhou pelo interior foi o José Lindoso, na época em que os militares estavam no poder. Vários grandes programas foram acionados. Basta lembrar o Probor II, em que foram liberados milhares de reais para o plantio de seringueiras interior a fora; o projeto da Emade, em Tefé, financiado pelo Banco Mundial, para plantio de dendê; e o pólo madeireiro de Itacoatiara, criado para ser o maior da América Latina. Além disso, Lindoso fez a Assembleia aprovar uma lei que passou a se chamar “Lei Lindoso”, que tinha por objetivo obrigar as empresas do Distrito Industrial da Suframa a investir parte dos seus lucros nos municípios do interior do Estado, com a criação do Distrito Agropecuário.
Belos projetos, portanto. O problema é que Gilberto Mestrinho, eleito governador, em 1982, o primeiro projeto que enviou à Assembleia Legislativa foi o da revogação da Lei Lindoso, matando, no nascedouro, a oportunidade do interior do Estado ser hoje rico, com uma economia pujante. Em seguida, abandonou e enterrou o projeto do dendê e o pólo madeireiro de Itacoatiara. E o que restou a partir daí? Nada, absolutamente nada. O interior piora dia a dia e não há qualquer previsão de melhorar no curto e no médio prazo. A economia dessas regiões está morta, o seu povo pobre e sem esperanças. Esse é p retrato mais realista do interior do Amazonas.
UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL
O que resta agora é lutar para se acabar com essa letargia, é sacudir as autoridades deste estado para que se lembrem que o Amazonas não é só Manaus. Quando isso acontecer, a economia do interior deixará de ser raquítica, minguada, e tomará forças para competir com as riquezas produzidas na capital e, dessa forma, as populações permanecerão nos seus municípios, sem mais necessidade de migrar para Manaus e, aqui, sofrer os horrores oferecidos pela cidade grande aos que procuram habitar nas invasões paupérrimas, onde encontrar moradia é uma aventura e comer é luxo. Outra idéia que surge, é a do senador Arthur Neto no que diz respeito estender os incentivos da Zona Franca, num primeiro momento para os municípios que integram a Região Metropolitana de Manaus e, num segundo, a todos os municípios do Amazonas. Essa proposta é o ideal para que o Amazonas economicamente cresça em harmonia, sem exclusão dessa ou daquela região. No entanto, não será fácil, pois haverá muita resistência por parte das bancadas do Sul e Sudeste. A nossa bancada federal em Brasília vai ter que suar a camisa e gastar muito latim para convencer os seus colegas deputados e senadores. Mas, ao final, acredito que tudo possa dar certo. O mais importante é que já dá para se ver uma pequena luz no fim do túnel. Agora, é lutar.
Por: vereador Mário Frota
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da CMM
Líder do PDT na CMM