terça-feira, 23 de outubro de 2012

“O BATELÃO JÁ VAI SAIR. JÁ EMBARCOU TODO MUNDO?”




Texto: Vereador Mário Frota*
É possível que os mais exigentes estranhem a ausência de camarotes. Pura bobagem de gente “luxenta”. O que não quer dizer muita coisa, porque o batelão está equipado com muitos armadores para rede.
Caso dependa de mim, vou dar a maior força ao Josué Filho, ao Waldir Correia e aos demais integrantes da equipe da Rádio Difusora, na organização da viagem dos derrotados na eleição de domingo rumo ao balatal.
Com muita gente para viajar o batelão ficou pequeno e, em razão disso, faz-se necessário o pessoal da Difusora fretar outro barco. Outro fato que deve ficar bem claro, é que os embarcados só têm passagem de ida, ou seja, quem vai para o balatal vai para ficar, para trabalhar duro na produção de balata, além de outros produtos do extrativismo regional, como borracha, sorva e castanha.
Enganam-se os que pensam que os passageiros não são bem tratados. A comida servida pode não ser das melhores, mas feijão, arroz, farinha d’água, pirarucu seco e galinha de granja, coisa de primeira, importada de São Paulo, não faltam à mesa.  O café da manhã tem bolacha de água e sal e margarina à vontade. Um luxo só.
É possível que os mais exigentes estranhem a ausência de camarotes. Pura bobagem de gente “luxenta”. O que não quer dizer muita coisa, porque o batelão está equipado com muitos armadores para rede. Viajar se balançando, pegando um ventinho é uma beleza, razão porque o nosso povo do interior na saída do porto estica a sua rede e só a retira no fim da viagem, que pode durar dois dias ou, às vezes, mais de uma semana.
O problema é que muita gente não gosta da vida dos seringais e balatais e, por isso mesmo, é possível que não queira embarcar no confortável batelão. O que então fazer? Convencê-las, mostrando que a vida nas regiões dos altos rios não é tão ruim assim como dizem?  É verdade que é dura, mas também tem lá suas compensações, a exemplo de poder se divertir num arrasta pé pelo menos uma vez por mês.
Na despedida do batelão muita gente vai chorar por acreditar que a vida no nosso interior é ruim, que não tem remédios, escola para os filhos e hospitais para a família. O bom de tudo isso, é que esse pessoal vai sentir na pele nunca ter feito nada pelos habitantes do nosso hinterland, historicamente abandonados, relegados à própria sorte, onde o braço do Estado nunca chegou para ajudar os seus habitantes, a não ser para comprar votos em época eleitoral, a exemplo da última eleição em que, na marra, e com muita grana, os próximos passageiros desse batelão roubaram a eleição de senador do Artur.

*Advogado;
*Líder do PSDB na CMM;
*Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.