O POVO TEM O DIREITO DE SABER AS RAZÕES PORQUE RECUSEI O CONVITE DO PREFEITO AMAZONINO PARA SER O NOVO PRESIDENTE DA CÂMARA. O povo de Manaus tem o direito de saber, com pormenores, o que aconteceu, na última quarta-feira, por ocasião da eleição para a presidência da Câmara de Vereadores de Manaus.
Candidato à presidência da Mesa com o apoio de cinco colegas vereadores, os companheiros Marcelo Ramos, Joaquim Lucena, Elias Emanuel, Ademar Bandeira e José Ricardo, tinha a minha candidatura o objetivo de marcar uma posição, de natureza política, contra o candidato do prefeito Amazonino Mendes, seja ele quem fosse.
Dentro da base do prefeito, constituída por 32 dos 38 vereadores com assento na Casa, a primeira candidatura a surgir foi a do vereador Homero de Miranda Leão, vice-líder de Amazonino na CMM e, a posteriori, entra no páreo o nome do líder do prefeito na CMM, o vereador Isaac Tayah.
Na terça-feira, que antecedeu a eleição, os dois candidatos da base do governo começaram a frequentar a minha casa em busca de apoio. Durante o dia e parte da noite, até umas 22:00 horas, os grupos liderados por Homero e Tayá se revezaram. Não sei se se tratava de mera coincidência mas, em nenhum momento, os dois grupos chegaram ao mesmo tempo.
Em minha casa, eu e os companheiros da oposição permanecemos de plantão. Da mesma forma como recebíamos um, recebíamos o outro, ou seja, sempre com disposição para o diálogo e o entendimento político, como manda o bom senso e a boa educação numa democracia.
Pela manhã do dia da eleição, às 8:00 horas, os meus companheiros da oposição decidiram que, apoiar a chapa liderada pelo Issac Tayá era a melhor forma para derrotar o Amazonino. O que estava matematicamente correto pois, sem os nossos seis votos, o candidato Homero de Miranda Leão, ostensivamente apoiado pelo prefeito, ganharia a eleição.
Às 9:30 horas entro no prédio da CMM e, antes de chegar ao meu gabinete, o telefone tocou. Atendi e a pessoa se identificou como sendo o Capitão Otávio, assessor do prefeito Amazonino Mendes. Inicialmente acreditei tratar-se de um trote, uma brincadeira de algum amigo, razão porque, em tom de brincadeira, disse: olha, o Amazonino é um eleitor e cidadão de Manaus e, como tal, ele tem o direito de falar comigo, e eu, o dever de ouvi-lo.
Ato contínuo fiquei surpreso ao constatar que o Amazonino era a pessoa que estava do outro lado da linha. E porque fiquei surpreso? Por uma razão bem simples: no seu último mandato como governador, por vingança política - em razão da denúncia que fiz envolvendo a construção de uma mansão, na época avaliada pela imprensa nacional em US$ 3 milhões, construída nas margens do Igarapé do Tarumã - tentou me atingir com a história de uma gravação que o seu grupo forjou para me incriminar, apresentando-me como intermediário de uma propina entre o então senador e presidente do Senado Jáder Barbalho e um empresário local. Ora, por tudo isso, há muitos anos não troco uma palavra com ele. Ainda por cima, venho fazendo, da tribuna da Câmara, uma oposição muito dura à sua administração.
Mas o certo é que ele entrou na linha e me fez um apelo para que eu aceitasse substituir seu candidato, o Homero. Mais do que surpreso, fiquei espantado, confuso. Procurei me acalmar e respondi: Olha Amazonino, eu não sou candidato de mim mesmo. Sou candidato do grupo da oposição a você nesta Casa. A decisão, portanto, tem que ser coletiva. E aí ele insistiu: “Mário prefiro ser derrotado pelo adversário sincero, do que pelo aliado desleal, desonesto. Prefiro você na presidência da Câmara, a ver o Eduardo, que hoje me esfaqueia pelas costas, emplacar o Tayah”. E prosseguiu: “o meu grupo tem 18 votos e, com mais o teu, empatamos. Resultado: pela idade você ganha do Tayah”. Frente à insistência, procurei botar um ponto final na conversa: ‘Amazonino, já estamos nos 44 minutos do segundo tempo. Não há mais espaço para negociação, pois, hoje pela manhã, ficou acertado com os meus colegas da oposição, a retirada da minha candidatura em benefício da do Tayá. Desculpe, vou desligar o telefone porque já estou entrando no plenário’.
Entro no plenário e, ao meu encontro, vem o Wilker Barreto e o Hissa Abranhim, dois apoiadores do Homero e me dizem que, em consonância com o Amazonino, eles estavam dispostos a substituir o nome do Homero pelo meu. E se eu aceitava. Respondi-lhes que a decisão não era minha, mas do grupo dos companheiros da oposição que me apoiavam.
Foi um “Deus no acuda”. O grupo do Homero de um lado me puxava e me dizia aos gritos que, com o apoio deles eu estava eleito presidente da Casa, que seria o vice-prefeito e, ocasionalmente, o prefeito do município, enquanto o do Tayah, aliado aos meus companheiros da oposição me empurravam para o outro lado, sob o argumento de que se tratava de “canto da sereia”. Para acabar com a confusão que estava posta, pedi que me deixassem ir à tribuna onde iria me manifestar e colocar um ponto final a toda àquela confusão.
Da tribuna agradeci ao vereador Homero e aos seus apoiadores por lembrar do meu nome, mas que, infelizmente, em razão da palavra assumida há poucas horas, o nosso grupo iria apoiar o vereador Isaac Tayah para a presidência da Casa. ‘Sei que estou abrindo mão da presidência da Câmara, de ser o vice-prefeito e, algumas vezes, o prefeito de Manaus. Sei que estou abrindo mão de tudo isso, mas não pode ser diferente’. E concluí: ‘um homem é dono de uma honra e, quando ele a perde, nada mais lhe resta, a não ser a vergonha. A minha história, construída com tantos sacrifícios, não pode ficar manchada por um momento de ambição política. Quero continuar sendo respeitado pelos meus amigos, meus filhos, assim como não ter vergonha de me olhar no espelho’.
Alguns amigos me censuraram por abrir mão de tal oportunidade, mas desejo que eles entendam que, pela minha trajetória política, pautada na ética e na moral, não poderia ser diferente e, se o tempo voltasse, faria tudo de novo.
Por: vereador Mário Frota
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da CMM
Líder do PDT na CMM