terça-feira, 16 de novembro de 2010

NO DIA DA PROCLAMAÇÃO


VIVA! A REPÚBLICA FOI PROCLAMADA! O POVO CORREU PARA O LARGO DA CARIOCA E, SURPRESO, PERGUNTAVA: ‘O QUE É REPÚBLICA’? QUEM CONTA BEM ESSA HISTÓRIA É O ESCRITOR JOSÉ MURILO DE CARVALHO NO LIVRO ‘A REPÚBLICA DOS BESTIALIZADOS’. Neste 15 de novembro, dia em que o povo brasileiro comemora a Proclamação da República, não deveria ser apenas mais um dos muitos feriados deste país, mas sim uma data para que todos fizéssemos uma reflexão sobre os rumos do sistema republicano implantado neste país por Deodoro, Benjamin Constant e tantos outros brasileiros que acreditaram que, com o novo regime, o Brasil iria se tornar uma nação democrática, com mais liberdade e justiça para todos.

Entre esses homens, eleva-se a figura do grande Rui Barbosa que, inspirado no federalismo norte-americano, liderou o grupo que arquitetou a primeira Constituição da República, promulgada em 1891. Rui, o gênio da raça, pelo seu talento e cultura recebeu, por trabalhos extraordinários prestados no exterior, a alcunha de o “Águia de Haia”. Rui Barbosa foi um grande civilista, o mais importante da história pátria.

Bem a propósito, na sua coluna de domingo, no Jornal A Crítica, o ex-senador Bernardo Cabral, nos lembra um maravilhoso texto de Rui Barbosa que, passado tantos anos continua atual, sem a necessidade de mudarmos uma vírgula. Cabral chama-o de Poema de Rui Barbosa, documento que transcrevo aqui, neste humilde blog, por entender que, infelizmente, o nosso Brasil, pelo andar da carruagem, pelos escândalos que diariamente pipocam na imprensa, em nada é diferente da época em que viveu o “Águia de Haia”. Infelizmente, o país vive sufocado por roubalheiras sem fim, com ladrões e ladras aproveitando-se de cargos públicos para enriquecer.

A título de reflexão pelo 15 de novembro, passo a palavra ao mestre Rui Barbosa.

“Sinto vergonha de mim... por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por ter compactuado com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim... por ter sido feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal felicidade em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim... pela passividade de ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição do sempre “contestar”, voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim... pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha de minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço, não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro! De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderosos nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude , a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Em termos éticos e morais em que o Brasil mudou nesses mais de sessenta anos que nos separam de Rui Barbosa? Só um exemplo: Lula, o primeiro mandatário do país, não viu, não ouviu, e nada sabia sobre o escândalo do “mensalão”, que explodiu dentro do Palácio do Planalto e envolveu 40 figurões, entre políticos e altos funcionários do seu gabinete, sala e cozinha. Rui Barbosa, vivo, o que não iria pensar e escrever sobre esse presidente que, quando a coisa aperta, tem a maior crise de amnésia?

Por: vereador Mário Frota

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da CMM

Líder do PDT na CMM

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