segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

SENADO DEVOLVE MANDATO AO DR. ARTHUR VIRGÍLIO FILHO



O presidente do Senado, José Sarney, entrega a Arthur Virgílio Neto o diploma e o broche de identificação em nome de seu pai, Arthur Virgílio Filho, senador cassado pela ditadura militar
Texto: Vereador Mário Frota*
Culto, orador destemido, espírito brilhante, não recuava um centímetro dos seus princípios. Impedido de sair candidato pela ditadura estimulou o filho, Arthur Virgílio Neto, a continuar na defesa dos ideais que pregou ao longo da sua vida política. Tal pai, tal filho. O filho honrou o legado deixado pelo pai.

Há coisas que não consigo entender neste país. Por exemplo, por que somente agora, depois de 29 anos da queda do regime político autoritário, é que o Congresso Nacional resolveu devolver os mandatos dos políticos cassados pela Ditadura Militar?
Por que os deputados e senadores constituintes não resolveram essa questão quando votaram a Constituição em 1988? Por que demorou tanto e, só agora, quando muitos dos injustiçados já morreram é que lembraram em homenagear as vítimas de um regime de força, de extrema brutalidade, que oprimiu o País por duas décadas?
Por que o Brasil sempre esteve na rabada dos países da América do Sul no que diz respeito aos movimentos sócio-políticos que, nesses últimos 200 anos, sacudiram esta parte do mundo? O Brasil foi o último país a tornar-se independe e a libertar os seus escravos. Agora, para não fugir à regra, ainda de forma tímida, inicia investigações para apurar torturas e assassinatos cometidos por militares da ditadura contra civis.  
Nessa última quinta-feira, depois de um longo inverno, finalmente o Senado da República decidiu devolver o mandato de senador da República ao Dr. Arthur Virgílio Filho, eleito Senador pelo Amazonas em 1963 e covardemente cassado em 1969. Vai aqui uma pergunta que não quer calar: Tiveram os constituintes, que elaboraram a Constituição promulgada em 1988, medo de melindrar os generais recém apeados do Poder? Daí o porquê de tantos brasileiros ilustres não mereceram o devido  reparo que ora o Congresso Nacional faz.
O certo é que os filhos e netos do meu saudoso mestre Arthur Virgílio Filho tiveram que esperar quase três décadas para que o Senado da República fizesse justiça a um homem merecedor do respeito de todos que o conheceram em vida. Culto, orador destemido, espírito brilhante, não recuava um centímetro dos seus princípios. A exemplo da sumaumeira, uma gigante das nossas florestas, que resiste as mais violentas tempestades, e continua de pé,  o guerreiro, Arthur Virgílio Filho, também  não se vergou aos poderosos, continuou resistindo até o fim e em tempo algum demonstrou  qualquer reação de desânimo.
Impedido de sair candidato pela ditadura, estimulou o filho, Arthur Virgílio Neto, a continuar o bom combate na defesa dos ideais que pregou ao longo da sua vida política. Tal pai, tal filho. O filho honrou o legado deixado pelo pai. Eu não estava presente ao ato em que o Senado da República tardiamente devolveu o mandato de senador ao grande amazonense Arthur Virgílio Filho. Infelizmente não pude lá estar por duas razões: primeiro porque a Câmara Municipal de Manaus (CMM), só encerrou os seus trabalhos do ano legislativo às 18:00h da última quarta; segundo, porque exatamente, nesse dia, por duas vezes, fui socorrido pelo departamento médico da Câmara. Pelas 16:00h,  a minha pressão estava em 16 x 9,5, ou seja, no meu limite.
Senti não estar presente fisicamente a ato tão significativo e importante com o elevado propósito de homenagear um ilustre amazonense que honrou o Senado da República, numa época terrivelmente difícil da vida nacional. Não estava presente fisicamente, é certo, mas em espírito sim, o que não poderia ser diferente. 


*Advogado;
*Líder do PSDB na CMM;
*Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.

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