Evandro Carreira, no plenário da Câmara Municipal de Manaus (CMM)
Por:
Vereador Mário Frota*
O
meu irmão e companheiro de lutas Evandro Carreira nos alertava sobre isso. Não
seguir os seus conselhos é pura estupidez, é não dar ouvidos a um dos poucos
políticos desta terra a pensar seriamente como devemos explorar economicamente
a Amazônia em defesa do homem, sem prejuízo a este paraíso verde que nos foi
legado por Deus.
O Brasil perde Evandro Carreira, o profeta
da Amazônia. Na condição de senador eleito pelo nosso Estado, usou por oito
anos a tribuna do Senado para defender a Amazônia da insensatez dos chefões da
ditadura militar, instalada no poder, via golpe de estado, em 1964.
Impulsionados pela frase “integrar para não entregá-la”, sem qualquer discussão
com a sociedade científica do País, construíram a rodovia Transamazônica, com
propósito de deslocar para a Amazônia o excedente populacional do Nordeste.
Como se não bastasse, entidades ligadas ao
desenvolvimento, a exemplo da Sudam, bancos oficiais, como o da Amazônia e do
Brasil, passaram a financiar grandes projetos agropecuários, em especial no Sul
do Pará e nos Estados do Acre e Rondônia. Com financiamento público, tratores
derrubavam a mata e gigantescas áreas de floresta desapareceram transformadas que
foram em pastagem para criação bovina. Para os governantes daquela fase
autoritária, a floresta amazônica era um entrave ao desenvolvimento do País,
que necessariamente teria que ser removida com propósito do Brasil enriquecer
abastecendo o mundo com carne bovina.
Foi nesse momento de caos, de verdadeira sentença
de morte lançada contra a maior floresta tropical do mundo, contra a mais rica
biodiversidade do Planeta, que Evandro ergue a sua voz da tribuna do Senado da
República e levou o Brasil a repensar a Amazônia. Brilhante orador, culto,
profundo conhecedor da floresta em questão, o senador Evandro Careira deu
início a uma série de discursos na defesa da Amazônia, incitando o nosso povo a
defendê-la contra o projeto mais cruel e danoso imposto à região ao longo da
história pátria.
Eleito que fui em 1974, pela mesma sigla
partidária de Evandro, o glorioso MDB, o partido adversário da ditadura
militar, seguimos juntos para Brasília, ele como Senador da República, e eu
como deputado federal. Nos primeiros meses Evandro foi o meu guia no Congresso
Nacional, inclusive foi ele quem me levou ao gabinete do Dr. Ulisses Guimarães,
na época deputado federal e presidente do partido, o mesmo que, na fase do
PMDB, em 1985, elegeu Tancredo Neves presidente da República, colocando um
final ao regime autoritário que oprimiu o nosso povo por mais de duas décadas.
Os discursos de Evandro Carreira foram impressos
e ficaram conhecidos pelo nome de Recado Amazônico. Os seus ensinamentos são
atualíssimos como, por exemplo, ensinava o então senador Carreira que “a
Amazônia não deveria ser economicamente ocupada pela pata do boi, mas pela
criação de peixe em criadouros” que ele intitulava de fazendas aquáticas. Nos tempos que correm, muitas empresas preferem hoje criar
tambaqui, matrinxã, pirarucu e outras espécies, a investir em fazendas para
criação bovina. Daí a grande quantidade desses pescados hoje abastecendo os nossos
mercados, oriundos dos vizinhos estados de Rondônia e de Roraima.
A várzea é outra opção que, segundo o
ex-senador Evandro Carreira, pode abastecer o nosso estado e o resto do País
com larga produção agrícola do chamado ciclo curto, como feijão, arroz, macaxeira,
abacaxi, melancia, melão e tantos outros do gênero. A título de exemplo, nos
fazia ver que, embora o rio Nilo não disponha de 10% das várzeas dos rios
amazônicos, a sua produção atualmente alimenta 200 milhões de árabes. De novo Carreira tem razão. A ausência de
produção nas nossas várzeas tem como causa principal o desleixo por parte do
governo do Estado e Federal, pois que, até o presente momento, inexiste uma
política de ocupação econômica capaz de alavancar essa imensa fronteira
agrícola ainda por ser desbravada. Quando
isso ocorrer, com certeza que o Amazonas vai deixar para trás essa situação
vergonhosa de ter que importar tudo que o nosso povo consome, incluindo aí
cheiro verde, tomate, pimentão, cenoura e, até farinha de mandioca, o que, convenhamos,
é o cúmulo do absurdo.
Agora, vivendo no paraíso celeste, que bom
seria se o Evandro intercedesse junto ao nosso Criador no sentido de que as
ideias que nos deixou sobre a Amazônia finalmente sejam executadas pelos nossos
governantes que, 47 anos depois, continuam presos ao modelo da Zona Franca,
aliás, o único projeto que sustenta hoje a economia do Estado que, em caso de
extinção, nos deixará mergulhados num caos pior do que o que enfrentamos após a
derrocada do ciclo da borracha, fato ocorrido na primeira década do século
passado. O meu irmão e companheiro de lutas Evandro Carreira nos alertava sobre
isso. Não seguir os seus conselhos é pura estupidez, é não dar ouvidos a um dos
poucos políticos desta terra a pensar seriamente como devemos explorar
economicamente a Amazônia em defesa do homem, sem prejuízo a este paraíso verde
que nos foi legado por Deus.
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.
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