Texto:
Vereador Mário Frota*
‘Mestre, não é bem assim. A humanidade não
esquece os seus filhos mais importantes. Veja uma coisa: quando um avião
sobrevoa Brasília, as pessoas que nele se encontram olham para baixo e vêem a
sua assinatura. As suas obras no Brasil e mundo afora conquistaram mentes e
corações’.
Oscar Niemayer morre aos 104 anos e o
monumento do Encontro das Águas, na área da Ponta das Lajes, que por ele foi projetado
em 2005, ou seja, há sete anos, mas infelizmente, ainda continua no papel.
Logo que o Serafim Correia assumiu a Prefeitura,
eu, na condição de seu vice, a conselho do meu amigo, jornalista Orlando
Farias, o levei à área onde até hoje estão instaladas as torres da Embratel, um
lugar fantástico, que dá para a gente ver o Encontro das Águas em toda a sua
beleza e força telúrica, uma deslumbrante imagem, única no mundo, onde dois dos
maiores rios do Planeta se encontram e, embora tenham as suas águas cores
diferentes (negra e amarela), envolvem-se num abraço de amor, como nos versos
de Quintino Cunha, e descem para o seu destino comum: o Oceano Atlântico.
Depois que deixamos a área sugeri ao
Serafim que, naquele lugar, que era de propriedade do Município, deveria ser
construído uma espécie de santuários das águas, em homenagem ao rio Amazonas e
aos seus tributários. No meio da conversa sugeri que deveríamos procurar um bom
arquiteto, dado a importância da futura obra para o turismo no Estado. De
estalo, sugeriu: “por que não contratamos o Dr. Oscar Niemayer para projetar a
obra?” E me aconselhou: “Mário, deverias ir ao Rio de Janeiro conversar com ele
sobre o projeto”. Não titubeei: ‘Eu topo Serafim. É o que vou fazer’.
Na semana seguinte, em companhia do
Secretário do Implub, meu amigo Carlos Valente, desembarcamos no Rio para
conversar com o maior arquiteto da história deste país. Em princípio, ele não
demonstrou interesse em aceitar a incumbência, pois que estava trabalhando em
muitas encomendas, muitas delas do exterior. Tentei sensibilizá-lo, afirmando
que em toda a Amazônia, ou seja, em mais da metade do Brasil, a única obra
assinada por ele era o Memorial dos Cabanos, mandado construir pelo então
governador do Pará, Jáder Barbalho, no início da década de 80 do século
passado.
Acredito que funcionou, pois, antes de
terminar a reunião, disse que aceitava elaborar o projeto. Enquanto o Carlos
Valente entendia-se com os arquitetos da equipe do mestre, fiquei a conversar
com ele, acredito que pelo espaço de uns 40 minutos. Sempre fumando cigarrilha
de cor preta, indagou-me como era o Amazonas, Estado da Federação que, segundo
ele, não conhecia. Lá pelas tantas, perguntou se eu acreditava em Deus. Disse-lhe
que sim. ‘Acredito que há um ser superior que controla as forças do Universo’,
sustentei. “Pois eu não acredito,”
retrucou. “Sou comunista de formação e só acredito no que pode ser provado pela
ciência”.
Mais à frente, saiu-se com essa: “O meu
tempo está passando. Estou com 96 anos e sei que o fim está chegando. A morte
apaga tudo. Vocês só lembram de mim porque estou vivo, mas, depois de morto,
todos vão me esquecer”. ‘Mestre, não é bem assim. A humanidade não esquece os
seus filhos mais importantes. Por exemplo: como esquecer Leonardo Da Vinte, Miguel
Ângelo, Beethoven, Mozart e Albert Einstein? Veja uma coisa: quando um avião sobrevoa
Brasília, as pessoas que nele se encontram olham para baixo e vêem a sua
assinatura. As suas obras no Brasil e mundo afora conquistaram mentes e
corações. Ora, como vamos esquecer o homem que projetou tantas maravilhas,
obras de um dos maiores gênios da arquitetura mundial?’ Fumando, com a cabeça
abaixada, murmurou: “Penso diferente. Vão me esquecer, sim!”
Jamais vou esquecer que um dia estive com
Oscar Niemayer e ele conversou comigo como se já me conhecesse, abrindo-me o
seu coração como o fez. Vou morrer sem esquecer esse momento. É com muito
carinho que guardo na minha biblioteca a publicação que me ofertou nessa
visita, contendo grande parte das suas obras, acompanhado de uma singela
dedicação: Para o amigo Mário Frota, um abraço do Oscar Niemeyer.
O que sinto – e muito - é que o projeto
está pronto há sete anos e continua no papel. Serafim fez uma festa no local,
com direito a banda de música e muitos discursos, mas terminou engavetando o
projeto. Amazonino assumiu e também nada fez para tocar a obra. Finalmente o
Omar agora o retirou da Prefeitura, na promessa de que vai construí-lo, com
propósito de exibi-lo por ocasião dos jogos da Copa. Será que sai? Eu e tanta
gente torcemos por isso, pois, pronto, imediatamente passa à condição de
referencial número um do turismo no Estado.
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.
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