domingo, 9 de dezembro de 2012

“DEPOIS DE MORTO, TODOS VÃO ME ESQUECER”



Texto: Vereador Mário Frota*
 ‘Mestre, não é bem assim. A humanidade não esquece os seus filhos mais importantes. Veja uma coisa: quando um avião sobrevoa Brasília, as pessoas que nele se encontram olham para baixo e vêem a sua assinatura. As suas obras no Brasil e mundo afora conquistaram mentes e corações’.
Oscar Niemayer morre aos 104 anos e o monumento do Encontro das Águas, na área da Ponta das Lajes, que por ele foi projetado em 2005, ou seja, há sete anos, mas infelizmente, ainda continua no papel.
Logo que o Serafim Correia assumiu a Prefeitura, eu, na condição de seu vice, a conselho do meu amigo, jornalista Orlando Farias, o levei à área onde até hoje estão instaladas as torres da Embratel, um lugar fantástico, que dá para a gente ver o Encontro das Águas em toda a sua beleza e força telúrica, uma deslumbrante imagem, única no mundo, onde dois dos maiores rios do Planeta se encontram e, embora tenham as suas águas cores diferentes (negra e amarela), envolvem-se num abraço de amor, como nos versos de Quintino Cunha, e descem para o seu destino comum: o Oceano Atlântico.
Depois que deixamos a área sugeri ao Serafim que, naquele lugar, que era de propriedade do Município, deveria ser construído uma espécie de santuários das águas, em homenagem ao rio Amazonas e aos seus tributários. No meio da conversa sugeri que deveríamos procurar um bom arquiteto, dado a importância da futura obra para o turismo no Estado. De estalo, sugeriu: “por que não contratamos o Dr. Oscar Niemayer para projetar a obra?” E me aconselhou: “Mário, deverias ir ao Rio de Janeiro conversar com ele sobre o projeto”. Não titubeei: ‘Eu topo Serafim. É o que vou fazer’.
Na semana seguinte, em companhia do Secretário do Implub, meu amigo Carlos Valente, desembarcamos no Rio para conversar com o maior arquiteto da história deste país. Em princípio, ele não demonstrou interesse em aceitar a incumbência, pois que estava trabalhando em muitas encomendas, muitas delas do exterior. Tentei sensibilizá-lo, afirmando que em toda a Amazônia, ou seja, em mais da metade do Brasil, a única obra assinada por ele era o Memorial dos Cabanos, mandado construir pelo então governador do Pará, Jáder Barbalho, no início da década de 80 do século passado.
Acredito que funcionou, pois, antes de terminar a reunião, disse que aceitava elaborar o projeto. Enquanto o Carlos Valente entendia-se com os arquitetos da equipe do mestre, fiquei a conversar com ele, acredito que pelo espaço de uns 40 minutos. Sempre fumando cigarrilha de cor preta, indagou-me como era o Amazonas, Estado da Federação que, segundo ele, não conhecia. Lá pelas tantas, perguntou se eu acreditava em Deus. Disse-lhe que sim. ‘Acredito que há um ser superior que controla as forças do Universo’, sustentei.  “Pois eu não acredito,” retrucou. “Sou comunista de formação e só acredito no que pode ser provado pela ciência”.
Mais à frente, saiu-se com essa: “O meu tempo está passando. Estou com 96 anos e sei que o fim está chegando. A morte apaga tudo. Vocês só lembram de mim porque estou vivo, mas, depois de morto, todos vão me esquecer”. ‘Mestre, não é bem assim. A humanidade não esquece os seus filhos mais importantes. Por exemplo: como esquecer Leonardo Da Vinte, Miguel Ângelo, Beethoven, Mozart e Albert Einstein?  Veja uma coisa: quando um avião sobrevoa Brasília, as pessoas que nele se encontram olham para baixo e vêem a sua assinatura. As suas obras no Brasil e mundo afora conquistaram mentes e corações. Ora, como vamos esquecer o homem que projetou tantas maravilhas, obras de um dos maiores gênios da arquitetura mundial?’ Fumando, com a cabeça abaixada, murmurou: “Penso diferente. Vão me esquecer, sim!”
Jamais vou esquecer que um dia estive com Oscar Niemayer e ele conversou comigo como se já me conhecesse, abrindo-me o seu coração como o fez. Vou morrer sem esquecer esse momento. É com muito carinho que guardo na minha biblioteca a publicação que me ofertou nessa visita, contendo grande parte das suas obras, acompanhado de uma singela dedicação: Para o amigo Mário Frota, um abraço do Oscar Niemeyer.
O que sinto – e muito - é que o projeto está pronto há sete anos e continua no papel. Serafim fez uma festa no local, com direito a banda de música e muitos discursos, mas terminou engavetando o projeto. Amazonino assumiu e também nada fez para tocar a obra. Finalmente o Omar agora o retirou da Prefeitura, na promessa de que vai construí-lo, com propósito de exibi-lo por ocasião dos jogos da Copa. Será que sai? Eu e tanta gente torcemos por isso, pois, pronto, imediatamente passa à condição de referencial número um do turismo no Estado.    

*Advogado;
*Líder do PSDB na CMM;
*Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.



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