O presidente
do Senado, José Sarney, entrega a Arthur Virgílio Neto o diploma e o broche de
identificação em nome de seu pai, Arthur Virgílio Filho, senador cassado pela
ditadura militar
Texto:
Vereador Mário Frota*
Culto,
orador destemido, espírito brilhante, não recuava um centímetro dos seus princípios.
Impedido de sair candidato pela ditadura estimulou o filho, Arthur Virgílio
Neto, a continuar na defesa dos ideais que pregou ao longo da sua vida
política. Tal pai, tal filho. O filho honrou o legado deixado pelo pai.
Há coisas que não consigo entender neste país. Por exemplo, por que somente agora, depois de 29 anos da queda do regime
político autoritário, é que o Congresso Nacional resolveu devolver os mandatos
dos políticos cassados pela Ditadura Militar?
Por que os deputados e senadores
constituintes não resolveram essa questão quando votaram a Constituição em 1988?
Por que demorou tanto e, só agora, quando muitos dos injustiçados já morreram é
que lembraram em homenagear as vítimas de um regime de força, de extrema
brutalidade, que oprimiu o País por duas décadas?
Por que o Brasil sempre esteve na rabada
dos países da América do Sul no que diz respeito aos movimentos sócio-políticos
que, nesses últimos 200 anos, sacudiram esta parte do mundo? O Brasil foi o
último país a tornar-se independe e a libertar os seus escravos. Agora, para
não fugir à regra, ainda de forma tímida, inicia investigações para apurar
torturas e assassinatos cometidos por militares da ditadura contra civis.
Nessa última quinta-feira, depois de um
longo inverno, finalmente o Senado da República decidiu devolver o mandato de
senador da República ao Dr. Arthur Virgílio Filho, eleito Senador pelo Amazonas
em 1963 e covardemente cassado em 1969. Vai aqui uma pergunta que não quer
calar: Tiveram os constituintes, que elaboraram a Constituição promulgada em 1988,
medo de melindrar os generais recém apeados do Poder? Daí o porquê de tantos
brasileiros ilustres não mereceram o devido
reparo que ora o Congresso Nacional faz.
O certo é que os filhos e netos do meu
saudoso mestre Arthur Virgílio Filho tiveram que esperar quase três décadas
para que o Senado da República fizesse justiça a um homem merecedor do respeito
de todos que o conheceram em vida. Culto, orador destemido, espírito brilhante,
não recuava um centímetro dos seus princípios. A exemplo da sumaumeira, uma
gigante das nossas florestas, que resiste as mais violentas tempestades, e
continua de pé, o guerreiro, Arthur
Virgílio Filho, também não se vergou aos
poderosos, continuou resistindo até o fim e em tempo algum demonstrou qualquer reação de desânimo.
Impedido de sair candidato pela ditadura, estimulou
o filho, Arthur Virgílio Neto, a continuar o bom combate na defesa dos ideais
que pregou ao longo da sua vida política. Tal pai, tal filho. O filho honrou o
legado deixado pelo pai. Eu não estava presente ao ato em que o Senado da
República tardiamente devolveu o mandato de senador ao grande amazonense Arthur
Virgílio Filho. Infelizmente não pude lá estar por duas razões: primeiro porque
a Câmara Municipal de Manaus (CMM), só encerrou os seus trabalhos do ano
legislativo às 18:00h da última quarta; segundo, porque exatamente, nesse
dia, por duas vezes, fui socorrido pelo
departamento médico da Câmara. Pelas 16:00h,
a minha pressão estava em 16 x 9,5, ou seja, no meu limite.
Senti não estar presente fisicamente a ato
tão significativo e importante com o elevado propósito de homenagear um ilustre
amazonense que honrou o Senado da República, numa época terrivelmente difícil
da vida nacional. Não estava presente fisicamente, é certo, mas em espírito
sim, o que não poderia ser diferente.
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.