...e eu como candidato a uma vaga de senador.
A sessão da última quinta-feira (28/07), na Câmara Municipal de Manaus (CMM), com propósito de entregar ao Arthur Virgílio Neto a comenda Medalha de Ouro da Cidade de Manaus, terminou, de forma espetacular, transformada em ato de desagravo ao ex-senador que perdeu eleição graças a compra de votos, via cartão de crédito, fato investigado e denunciado ao TRE pelo Ministério Público Eleitoral.
Havia um clima de solidariedade, de apoio irrestrito ao Arthur. Autoridades presentes, daqui e de fora, que usaram o microfone, o fizeram de forma emocionada, alguns até vertendo lágrimas, a exemplo do deputado estadual Arthur Bisneto que, se não segurasse o soluço, com certeza que não teria terminado o seu discurso.
Fosse um dos oradores é possível que comigo não seria muito diferente. Ocorreu com o Arthur Virgílio o mesmo que enfrentei em 1986, quando integramos a mesma chapa na eleição daquele ano, sendo que ele saiu candidato ao governo eu para uma vaga de senador. Nós - eu e o Arthur - enfrentamos a eleição mais corrupta da história deste Estado. O Arthur como candidato ao governo e eu como candidato a uma vaga de senador. A cabeça do Arthur rolou primeiro. No meu caso foi mais vergonhoso porque, desde o primeiro momento, o meu nome despontou, de forma disparada, como o mais votado para o Senado, o que aconteceu até o terceiro dia da apuração quando, inesperadamente, sem que ninguém entendesse, o TRE, sem nenhuma explicação à sociedade, mandou parar a apuração às 14:00 horas.
Havia acabado de almoçar quando o Arthur e o Félix Valois me avisaram que um fato muito grave estava acontecendo e precisávamos ir ao TRE conversar com o presidente do Tribunal. Sai correndo e os encontrei à porta do Tribunal, na época na José Clemente, no prédio onde hoje funciona a rádio Rio Mar. O Arthur interpelou o Presidente com palavras duras e, não fosse eu e o Valois contê-lo, por certo que os dois teriam se atracado. O Arthur: “O senhor mandou parar a apuração por ordens do Mestrinho. Isso é uma vergonha para este Tribunal. Esse é um jogo corrupto. Vocês vão hoje à noite roubar a eleição do Mário Frota”.
O presidente do TRE respondeu que não sabia de nada, que não havia autorizado a apuração dos votos coisa nenhuma. Ao deixar a sala do Presidente disse ao Arthur e ao Valois: “companheiros eles selaram hoje a minha sorte. À noite vão trocar as urnas e, amanhã, eles tomam a minha eleição”. Dito e feito. De forma misteriosa, no dia seguinte fui rebentado pela fraude eleitoral. Os cidadãos e cidadãs, vítimas daquela eleição corrupta, ficaram tão revoltados, ao ponto da multidão rumar para o TRE e só não ateou fogo no prédio porque eu e o Arthur chegamos a tempo de desviá-la para a frente do Instituto da Educação.
Os tempos mudaram. Antes era o voto manual que, manipulado por muita gente, desaguava num tal de mapa da eleição. A apuração dos votos durava dias. Agora, com a urna eletrônica, uma hora depois sabe-se quem foi eleito e quem perdeu. Antes os votos eram comprados nas mesas apuradoras, agora é antes, na grana, a exemplo do voto que, nessa eleição passada, no interior do Estado era negociado por R$50,00, mas a oferta podia chegar aos R$ 100,00.
A diferença da minha eleição que foi roubada no passado e a do Arthur agora é tão somente de natureza estratégica. Não adianta urna eletrônica enquanto as populações do interior continuarem mergulhadas na ignorância e na miséria. Bem a propósito, o senso do IBGE, de 2010, registra que vivem hoje no Amazonas 650 mil pessoas na faixa da miséria, ou seja, abaixo da chamada linha da pobreza. Isto é ruim para o nosso povo, mas uma beleza, uma maravilha para governos populistas, a exemplo da oligarquia fundada por Gilberto Mestrinho em l982 que resiste até hoje. Para eles é bom continuar assim. É muito fácil controlar um povo sem educação e com fome, mas é muito difícil, mais do que isso, é impossível escravizar esse mesmo povo quando ele foi frequentou a escola e tem o estômago cheio.
É por isso Arthur que o Amazonas, nesse último censo do IBGE aparece como campeão em miséria no território nacional, despontando com cinco municípios entre os 50 mais miseráveis do País. Do jeito que a coisa está cada vez vai ser mais difícil ganhar eleição por estas bandas.
Por: vereador Mário Frota
Líder do PDT na CMM
Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM
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