Não sou contra a este tipo de encontro. Pelo contrário, pois entendo que todo movimento em defesa do Planeta deve ser incentivado. A objeção que coloco tem a ver com a forma como foi feito, ou seja, pessoas interessadas em participar do encontro foram impedidas em razão do preço do ingresso milionário cobrado à porta. Pelo alto preço cobrado deputados federais, estaduais e vereadores do Estado não estavam presente, assim como cientistas e estudiosos do meio ambiente amazônico, a exemplo de pesquisadores do INPA, da EMBRAPA, de professores da UFAM, da UEA, além de outros órgãos de pesquisa da região.
O senador Eduardo Braga, o organizador do encontro, para dar brilho ao espetáculo apresentou como palestrante o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton e o ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, ator do clássico Exterminador do Futuro. Tudo bem. Nada contra os dois. Agora aqui vão algumas perguntas indiscretas: Esses senhores vieram por amor à preservação da Amazônia, ou pela bolada que eles cobram, um cachê milionário, sempre que participam desse tipo de evento? Em outras palavras: aqui viriam de graça caso não fossem regiamente pagos?
Outra: Por tudo que li nos jornais, nem Clinton e tampouco Schwarzenegger o disseram algo de novo nesse encontro para milionários promovido no Hotel Tropical. Nada que, diariamente, não se leia e se ouça aqui e mundo a fora. O que se depreende é que esse tipo de encontro é midiático, em especial para a mídia internacional, ávida por mostrar ao mundo, via televisão e jornais, que o desenvolvimento sustentável é um sucesso na Amazônia, e que está salvando a região da devastação.
O senador Eduardo Braga lembrou, aos famosos convidados, que o “Bolsa Floresta”, inaugurado no seu governo está salvando a Amazonas do aniquilamento. Segundo ele, cada morador do interior do Estado ao receber esse dinheiro, ou seja, R$ 50,00, transformou-se num ardente guardião da floresta. É incrível, mas somente Braga - e mais ninguém - pode levar a sério essa história de que R$ 50,00 pode sustentar uma família que vive na solidão dos rios e lagos da região, onde um litro de diesel, que em Manaus custa R$ 2,20, lá extrapola os R$ 4,00.
O problema é que o País de origem desses dois convidados pelo Senador Braga, historicamente é o que mais polui o planeta com os gases das suas indústrias. Não é à toa que, até hoje, os Estados Unidos da América e a China ainda não assinaram o protocolo de Kioto, que tem por objeto conter a produção de dióxido de carbono que, lançado na estratosfera, envenena o Planeta.
A nossa realidade é outra. Quem conhece a Amazônia sabe que é impossível uma família que vive na floresta sobreviver com míseros R$ 50,00. Se, é para valer, e não jogo demagógico para o público lá fora (exterior), então que os países desenvolvidos, em troca do oxigênio produzido pela floresta amazônica, ofereçam ajuda substancial às famílias que vivem ao longo do interior amazônico. Há mais de 35 anos atrás, Samuel Benchimol, meu professor de Economia Política na Faculdade de Direito da UFAM, pregava que a salvação da Amazônia e do Planeta estava no pagamento pelos países desenvolvidos de um imposto sobre o oxigênio produzido pelas nossas florestas. Passadas mais de três décadas, as idéias do mestre Benchimol continuam válidas, extraordinariamente contemporâneas.
O que entendo é que chega de blá ,blá, blá, ou seja, conversa mole, pois o tempo de agir em defesa da Amazônia e do Planeta está passando. As geleiras do Ártico estão derretendo a olhos vistos. A Terra está doente. O que está faltando agora é ação. Ação essa que depende de todos nós, é verdade, mas, o grosso da conta, tem que ser pago mesmo é pelos países que degradaram ao máximo o Planeta, a exemplo da pátria de Clinton e Schwarzenegger.
Por: vereador Mário Frota
Líder do PDT na CMM
Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM