Por:
vereador Mário Frota*
“Sob o comando do grande Ulisses Guimarães,
travei a minha batalha contra o regime de exceção que passou a dominar o País a
partir de 1964. A tribuna foi a minha trincheira... Confesso que em nenhum momento
me passou pela cabeça pegar em armas, pois que não era o meu propósito manchar
as mãos com o sangue de irmãos brasileiros”.
Depois de um longo inverno eis que a Comissão
da Verdade, instalada para apurar denúncias de perseguições, torturas e
assassinatos na época da ditadura militar, apresenta relatório e dá por
encerrado os seus trabalhos.
A presidente Dilma se desmancha em choro. A
extrema esquerda sente-se vingada. A direita, representada por militares e
civis, reage e questiona o porquê de a citada Comissão não ter publicado o
número e nome dos militares e civis assassinados pelos grupos comunistas que
pegaram em armas com propósito de derrubar a ditadura.
Acusações são feitas de lado a lado. Um
General da reserva, acusado de ter participado com grande violência contra a
esquerda que pegou em armas, solta os cachorros para cima da própria
Presidente, tachando-a de hipócrita e terrorista. É muito difícil para quem não
viveu aqueles momentos entender o que realmente aconteceu naqueles tempos
difíceis da vida nacional.
Após a segunda Guerra Mundial o mundo ficou
dividido entre as democracias do Ocidente, sob a liderança dos Estados Unidos
da América do Norte e os países que integravam a ex-União Soviética, de governo
comunista. Esse momento ficou conhecido por Guerra Fria.
Os países do terceiro mundo foram cooptados pelos dois lados. A simpatia pela
esquerda cresceu em diversos países da América do Sul, fato que levou a direita,
na sua maioria integrada por militares, a reagir, a exemplo do que aconteceu
aqui no Brasil, assim como na Argentina, no Chile, e outros.
Jovem, com forte simpatia pelas ideias
esquerdistas da época, recém saído da nossa Faculdade de Direito, ingressei no
Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
o partido de oposição à Ditadura Militar. Em 1974 consegui, com o apoio
de Fábio Lucena, à época o mais importante líder da oposição no Estado, e outros
companheiros, votos para me eleger deputado federal, obtendo a maior votação no
Amazonas.
O momento era turvo. O futuro era incerto.
A oposição aos militares estava claramente dividida em dois grupos: os que
usavam as tribunas dos parlamentos do País e órgãos da imprensa para criticar e
denunciar de forma dura à opressão militar, e os que buscaram o enfrentamento
pelas armas, nos casos os grupos de esquerda, inspirados na doutrina comunista
e apoiados pelos governos de Cuba e da ex-União Soviética. Em qualquer
circunstância matar não é solução, mas destruição, aviltamento de valores
essenciais para a sobrevivência de um mundo melhor, idealizado por homens como
Jesus, Platão, Sócrates, Aristóteles, Lincoln, e tantos outros.
Sob o comando do grande Ulisses Guimarães,
travei a minha batalha contra o regime de exceção que passou a dominar o País a
partir de 1964. A tribuna foi a minha trincheira. Em 1985, com a eleição de Tancredo Neves para
presidente da República, finalmente a ditadura dos coronéis e generais foi
defenestrada do poder. Confesso que em nenhum momento me passou pela cabeça
pegar em armas, pois que não era o meu propósito manchar as mãos com o sangue
de irmãos brasileiros. Entendia e acreditava que, a luta sem armas nas mãos, era o melhor caminho a ser trilhado para a conquista da
democracia. O tempo, o senhor da razão,
demonstrou que os brasileiros que assim pensavam estavam certos.
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.