Trabalhadores protestam contra os gastos com construção da
Arena da Amazônia
Texto:
Vereador Mário Frota*
Tanto
dinheiro jogado numa disputa futebolística em que, no máximo, o povo vai
assistir a quatro partidas. E quando acabar a euforia da Copa o que vai ficar
para o nosso povo? Dívidas astronômicas a pagar. Segundo o jornal A Crítica, 20
anos é o tempo que o Amazonas vai levar para pagar R$ 505,1 milhões gastos
somente na construção da Arena.
Embora tivesse recebido convite para
assistir a inauguração da Arena da Amazônia, nome dado ao milionário estádio
construído sob exigências da FIFA, preferi ficar em casa lendo um belo livro
que me foi presenteado pelo meu amigo Roberto Tadros, por ocasião do meu
aniversário. Zelota é uma excelente biografia sobre a vida de Jesus Cristo, assinada
pelo escritor e pesquisador Reza Aslan. Há dois anos, integra a lista dos mais
vendidos nos Estados Unidos.
Agora vamos ao que interessa. Quando
falaram em derrubar o Vivaldão, o melhor estádio da região Norte do País,
projetado pelo arquiteto Severiano Mário Porto, obra que mereceu o primeiro
lugar num concurso nacional de arquitetura, em 1970, eu e o deputado estadual
Luís Castro ingressamos na Justiça Federal com uma Ação Popular que, pelo que
sabemos, terminou numa lata de lixo, próxima à mesa do Magistrado.
As gerações mais novas não sabem, mas a
verdade é que o povo do Amazonas ajudou a financiar o Vivaldão, pagando alguns
centavos a mais sobre certos produtos, como refrigerantes. A sua inauguração
ocorreu com a ilustre presença da seleção Canarinho, com a participação de
grandes craques, a exemplo de Pelé, Tostão, Rivelino, e tantos outros. Depois
de Jogar com a seleção do Amazonas, aplicando-lhe uma surra de cinco a zero,
daqui partiu direto para o México, onde se consagrou o primeiro tricampeão do
mundo.
Disse ontem da tribuna que, dependesse de
mim o Vivaldão, um estádio que, segundo estudos da revista Exame, valia R$ 600
milhões, jamais seria derrubado. O que se poderia fazer - e sobre isso opinei à
época - seria adequá-lo para a Copa, adicionando a sua estrutura uma cobertura.
Aliás, logo depois que começaram a falar em derrubar o Vivaldão, o arquiteto
Severiano Porto esteve em Manaus e, pelos jornais, disse que, caso o governo quisesse, ele poderia aumentar as
suas arquibancadas, assim como projetar uma boa cobertura. Frente a tais argumentos, o
governador à época, Eduardo Braga, simplesmente silenciou.
Bem a propósito, o jornal A Crítica de
hoje, em matéria de página inteira, mostra os gastos exorbitantes do Estado nas
obras da Copa. O dinheiro gasto com a Arena, com o estádio da Colina e o campo
do Coroado, somam a estratosféricos R$ 900 milhões. Somente com a Arena, o
projeto que inicialmente foi orçado em R$ 409,1 milhões, o Estado já gastou,
até a presente data, R$ 792,3 milhões, isso independente do centro de
convenções ao lado onde já enterrou R$ 39,9 milhões. Com o estádio da Colina a
gastança está em torno de R$ 5,7 milhões, enquanto com o Centro de Treinamento,
no bairro do Coroado, a obra que iria custar R$ 14 ,7 milhões, já engoliu R$ 18,4 milhões.
Os amigos e amigas já imaginaram o que o
nosso povo, em termos de saúde e educação poderia ganhar, caso esses R$ 900 milhões
fossem devidamente aplicados na construção de escolas e hospitais. Vamos aos
números: ao preço de R$ 5,1 milhões, que foi o que custou o ora inaugurado
hospital de Silves, daria para construir 68 unidades. E se o governo resolvesse
investir essa dinheirama toda em escolas? Ora, considerando que cada uma sairia
ao preço de R$ 3 milhões cada, as nossas crianças ganhariam 300 novas escolas.
Tanto dinheiro jogado numa disputa
futebolística em que, no máximo, o povo vai assistir a quatro partidas. E
quando acabar a euforia da Copa o que vai ficar para o nosso povo? Dívidas
astronômicas a pagar. Segundo o jornal A Crítica, 20 anos é o tempo que o
Amazonas vai levar para pagar R$ 505,1 milhões gastos somente na construção da
Arena. Será que esse é o chamado legado da Copa, legado de enganação e
roubalheira? E onde está o BRT e o monotrilho prometidos por Eduardo Braga? O
povo quer saber. Será que o gato comeu?
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.
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