Mário escapou da morte porque, nesse dia, demorou mais
do que de costume a chegar a casa.
Texto:
Vereador Mário Frota*
Muitas
vezes rimos dessa história um tanto maluca. A verdade é que não era nada fácil
fazer oposição aos governantes militares. Na eleição de 1974, o Fábio Lucena foi
impedido de sair candidato... A minha vida política começou ali e, até hoje,
passados quase 40 anos, ainda não dei por terminada.
Matéria publicada em jornal, no que diz
respeito à política, leio tudo para me manter bem informado. Como político, gostando ou não, nada deixo
passar. Dever de ofício. No entanto, quando se trata de matéria assinado, a
minha preferência recai nos melhores.
Entre os muitos autores de minha
preferência posso nomear alguns que, pelo estilo, cultura e interação dos fatos
abordados, dão-me grande prazer ao lê-los. Paulo Figueiredo, Félix Valois,
Júlio Antônio Lopes, Bernardo Cabral, João Bosco Araújo, Lupercínio de Sá Nogueira, Ivânia Vieira, Mário Antônio Sussmann,
Walmir Lima, Arnaldo Carpinteiro Peres, Hermengarda Junqueira, Wilson Nogueira, formam o
epicentro dos jornalistas que, confesso, leio com muito prazer. No desejo de
não cometer qualquer injustiça, afirmo aqui que existem outros escrevendo muito
bem nos nossos jornais, mas, preferencialmente, rendo minhas homenagens aos
ilustres companheiros ora citados.
Hoje, bem cedo, li o excelente e oportuno artigo
Senta a Pua, assinado pelo jornalista e advogado Mário Antônio Sussmann, companheiro
de luta dos tempos heroicos, em que bem poucos tinham coragem de se arriscar no
combate à ditadura militar, instalada via quartelada em 1964, que perseguia, prendia
e assassinava estudantes, professores, jornalistas, e exilava do País políticos
da envergadura de Leonel Brizola, Almino Afonso, Miguel Arrais, entre outros.
É nessa fase nebulosa da vida nacional que
conheci Mário Antônio Sussmann. À época cursava Direito, na Faculdade do Largo
dos Remédios quando, certo dia, o conheci e, daí por diante, passei a ouvi-lo
até porque, como já tinha conhecimento, tratava-se de um companheiro que havia
se envolvido nos movimentos políticos no Rio de Janeiro, ao lado de estudantes
que participavam da resistência à ditadura. Nessa fase foi alvo de
perseguições. Aconselhado, melhor,
intimado pela família, veio para Manaus, onde concluiu o seu curso de Direito.
Tempos depois, o Mário Antônio confessou-me
que, ressabiado, no primeiro momento ficou preocupado com a minha aproximação,
acreditando tratar-se de algum ‘dedo duro’ ligado a qualquer órgão de
informação do regime militar, a exemplo do SNI. Lembro-me que muitas vezes rimos
dessa história um tanto maluca. A verdade é que não era nada fácil fazer
oposição aos governantes militares. Lembro-me que, depois de reiteradas
críticas pesadas, ao então governador Cel. João Walter de Andrade, por meio de artigos,
que assinava num jornal local, teve a sua casa invadida e depredada. Até um
cachorrinho, uma espécie de vigia da casa, foi morto a pauladas. Mário escapou
porque, nesse dia, demorou mais do que de costume a chegar a casa.
Quando, na eleição de 1974, o Fábio Lucena foi
impedido pelos militares de sair candidato a deputado federal, eu e o Mário
Antônio éramos os seus candidatos preferenciais para substituí-lo na vaga que
ora deixava. O Mário Antônio saiu fora e eu topei o convite. Meses depois, com
o apoio do Fábio, do Mário Antônio, do Umberto Calderaro, do então candidato ao
Senado, Evandro Carreira, e de outros companheiros, fui eleito deputado federal
com a maior votação do Estado. A minha vida política começou ali e, até hoje,
passados quase 40 anos, ainda não dei por terminada.
*Advogado;
*Líder
do PSDB na CMM;
*Presidente
da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da CMM.
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