Nem mesmo na época da ditadura vi coisa igual. Lembro-me que, em 1982, quando Mestrinho foi eleito governador do Estado (na época eu era deputado federal e candidato à reeleição), fui abordado pelo então deputado federal Vilvaldo Frota, que à época integrava o PDS, o partido que apoiava o regime militar, que foi logo me dizendo: “Mário, um candidato a deputado federal do partido de vocês, o Carlos Alberto De Carli, está inflacionando a campanha”. E me deu um exemplo, naturalmente que hipotético: “Quem antes pedia 5, agora pede 500, e vai por aí”.
É bom que se diga que as campanhas dos candidatos do partido ligado ao regime autoritário, então no poder, eram acanhadas, pobretonas, comparadas às campanhas milionárias, a peso de ouro, de hoje. Exemplo: o Fábio Lucena venceu a eleição para o Senado em l978, que lhe foi roubada na abertura das últimas urnas, no município de Atalaia do Norte, região do Alto Solimões, sem um centavo no bolso. Fábio viajava comigo, ou com outro candidato, mas ia logo dizendo: “Companheiros eu não tenho dinheiro para custear nem passagens e nem hospedagem”. Eu, o José Dutra, ou outro candidato do nosso partido, com prazer assumíamos as despesas do Fábio, pois, o importante é que ele, pela sua capacidade de liderança e oratória invulgar, estivesse ao nosso lado.
Vejamos hoje quanto está custando um mandato de senador da República. A Vanessa Grazziotin declarou ao TRE que gastou 4,5 milhões de reais para se eleger. Ora, esse é o gasto declarado. E o peso da máquina administrativa do Estado na campanha, não conta? E o peso da estrutura administrativa dos municípios, também não conta? Somando tudo, ou seja, dinheiro declarado e os recursos das máquinas do estado e dos municípios, quando gastou mesmo a Vanessa para se eleger senadora?
Em 1986, eu para o senado e o Arthur Virgílio para o governo, fizemos uma campanha franciscana, posso dizer que miserável. Não tivemos dinheiro para colocar placas (outdoor) nas ruas. Não podíamos pagar sequer um estúdio para gravar o programa político. O equipamento que conseguimos para fazer as gravações para o programa político era do tipo amador. A gravação, pela ausência de uma sala com proteção acústica, era tão ruim que as pessoas ouviam as mensagens dos candidatos misturadas com o ruído dos ônibus que passavam na rua e a buzina de carros. Foi a campanha do centavo contra o milhão. Resultado: o Arthur venceu em quase a metade dos municípios do interior, inclusive em Eirunepé, a terra do Amazonino, enquanto, no meu caso, todo mundo sabe que venci nas urnas, mas a fraude falou mais alto e, na fase da apuração, no maior cinismo explícito, roubaram o meu mandato.
Por que hoje, quando respiramos o ar da democracia, as eleições, sabidamente, estão mais caras e corruptas? Essa pergunta quem tem que responder é o TSE, o TRE, a Polícia Federal, o Ministério Público, enfim, todos os órgãos legalmente responsáveis por uma eleição limpa e democrática no país. Amigos meus do interior me afirmaram, depois desse pleito, que nunca presenciaram eleição mais corrupta. O preço do voto no interior oscilava de R$ 50,00 a R$ 100,00, ou até o tamanho do bolso do candidato.
Foram 21 anos de luta para que o povo voltasse a ter o direito de eleger os seus governantes, de vereador a presidente da República. O único avanço que ocorreu, pelo menos aqui no Amazonas, foi a rapidez da apuração. Antes, os políticos corruptos compravam votos geralmente nos dias da apuração, enchendo o bolso dos mesários e até de juízes com muito dinheiro. Agora, com a urna eletrônica, a tática mudou e a compra é feita antes. E é o que criminosamente está acontecendo, principalmente nos grotões do interior, onde a fiscalização do TRE e dos partidos é deficiente, basicamente não existe.
Por: vereador Mário Frota
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da CMM
Líder do PDT na CMM
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